Gustavo Brigatti
No nada ortodoxo laboratório da música pop, misturar indie rock com bossa nova talvez não seja das experiências mais óbvias. Mas foi arriscando-se nessa mistura de gêneros que o gaúcho Ale Vanzella chegou longe: seu primeiro disco, Indie Bossa, estreou em Nova York, rendeu uma temporada de shows no Japão e, em junho, levou o Prêmio Açorianos de Música na categoria Revelação.
Nascido e criado em Guaporé, município da Serra com pouco mais de 20 mil habitantes, Vanzella aprendeu a tocar bateria aos 13 anos para incomodar a vizinhança tocando Nirvana e Sepultura. Aos 18, trocou as baquetas pela guitarra e montou uma banda de indie rock, que tocava Strokes, Killers e Los Hermanos, além de canções próprias. Mas, como todo Carnaval tem seu fim, graduou-se em Ciências Contábeis, abriu uma empresa de contabilidade e virou professor universitário. Foi aí que João Gilberto apareceu.
- Vi o João Gilberto em um especial da MTV, com aquele jeitão dele, reclamando do som que nunca ficava bom e tal. Achei curioso e fui atrás da discografia dele - lembra hoje, aos 29 anos.
De repente, Vanzella estava ouvindo sem parar os discos do pai da bossa nova e substituindo na marra as cordas de aço da guitarra pelas cordas de náilon do violão. Mais: dedicou-se a adaptar suas canções roqueiras ao universo de João Gilberto. Foi quando teve o estalo que resultaria em Indie Bossa.
- Meu trabalho consiste em misturar letras e melodias de indie rock a batida, acordes e harmonia da bossa nova - explica.
Indie Bossa foi gravado em 2011 na ponte aérea Guaporé e Rio de Janeiro. No Rio, Vanzella conheceu Roberto Menescal, um embaixador da bossa nova, que, além de participar do disco, lançou o trabalho pelo seu selo, Albatroz. Com o álbum pronto e a bênção do padrinho, Vanzella partiu para a turnê de divulgação, com shows em Nova York e Tóquio.
- No Japão, muito por conta do meio de campo feito pelo Menescal, cheguei com pinta de bossa star - brinca Vanzella.
- Fiz sete shows por lá, e a recepção foi incrível. Inclusive gravei uma faixa em japonês para o lançamento exclusivo no Japão.
De volta ao Brasil, o músico faturou o Prêmio Açorianos. Para Vanzella, o reconhecimento é um passo importante na retomada de um dos gêneros que é a cara do Brasil:
- Há uma carência muito grande de novos autores de bossa nova. Até agora, apenas cantoras fazendo versões de clássicos vingaram, mas acho que isso está mudando.
Para o jornalista e crítico Juarez Fonseca, que participou da escolha de Vanzella no Açorianos, ele é um artista em quem se deve ficar de olho:
- Tem um vírus pop na bossa dele que a faz ser diferente. E ele tem presença própria, pinta de roqueiro moderninho, mas de cantar suave e batida bossa nova. Está no primeiro disco, mas já mostrou que tem potencial.