As raízes germânicas fixadas na serra gaúcha serviram como base para uma rede de hotéis quem vem conquistando o Brasil. Foi na pousada dos avós, na turística Gramado, que Alexandre Gehlen descobriu a receita de um negócio que cresce acima de dois dígitos a cada ano.
Dona de um patrimônio calculado em R$ 700 milhões, a rede InterCity, criada pelo empresário em 1999, administra 19 empreendimentos no país e no Exterior e planeja expansão ambiciosa: chegar a 50 unidades nos próximos três anos.
Consolidada pela presença em 12 cidades brasileiras e em Montevidéu (Uruguai), a empresa gaúcha planeja pular de 2 mil para 6 mil leitos até 2015. O faturamento avançou de R$ 78 milhões em 2010 para R$ 97 milhões no ano passado e deve terminar 2012 próximo dos R$ 130 milhões.
No primeiro semestre deste ano, a receita cresceu 33,8% em relação ao mesmo período de 2011. Com o início das operações de um hotel em Salvador (BA) e outro em Manaus (AM), até dezembro a rede estará presente nas cinco regiões do país.
Vídeo: Alexandre Gehlen fala sobre o que RS precisa para dar certo. Confira:
Os alicerces para o sucesso estão no modelo de gestão diferenciado e no respeito ao gosto dos clientes. A tecnologia também exerce papel importante. Gehlen dotou a empresa de um sistema online de orçamento e contabilidade, que permite maior transparência aos acionistas sobre a aplicação dos recursos, além de possibilitar a prestação de contas nos primeiros dias do mês.
Diretor-geral da marca, Gehlen tomou gosto pela profissão em Gramado, na metade dos anos 1970, quando passava as férias na pousada Bavária, de propriedade dos avós. O então menino trabalhava no local como garçom, ajudante ou recepcionista. Apesar da experiência inicial, Gehlen não fez a transição natural de herdeiro para administrador.
Aos 18 anos, o jogador de vôlei de quase 1,90m optou pela Engenharia Química e passou a trabalhar no polo petroquímico. Dois anos depois, descobriu-se insatisfeito e tomou coragem para mudar: trancou a universidade, pediu demissão e iniciou um curso de Hotelaria em Canela.
Após um estágio na cidade austríaca de Bad Gastein, próximo a Salzburg, no início dos anos 1990, Gehlen retornou ao Brasil e assumiu o hotel da família. O aprendizado no esporte coletivo, como espírito de equipe e disciplina, foi fundamental para a formação do empresário.
Como em uma partida de vôlei, a jogada inicial, o saque, precisa ser forte o suficiente para abalar o adversário. E Gehlen usou a experiência nas quadras para fazer um lançamento certeiro em 1999: entrou no segmento de hotelaria corporativa, com a abertura do InterCity Premium em Gravataí, motivado pela instalação do complexo automotivo da General Motors no município.
- O Estado vivia uma ótima fase, e aquela era a cidade mais promissora na época - conta.
O sucesso do empreendimento permitiu a expansão para Porto Alegre, com um hotel InterCity Express próximo ao aeroporto Salgado Filho. Novos bons resultados expandiram a marca para o Interior, com a inauguração de uma unidade em Caxias do Sul. Ultrapassar os limites do Estado era questão de tempo.
A maior mudança ocorreu em 2004, quando a rede passou a atuar também na administração de empreendimentos de terceiros. A partir desse ano, com a inauguração do InterCity Premium, na Capital, e de uma unidade em Cuiabá (MT), a empresa consolidou o novo modelo.
Em 2011, um grupo de investidores uruguaios, de olho nos turistas brasileiros, buscou a empresa para instalar um hotel em Montevidéu, que tinha poucas opções em hotelaria de negócios. Inaugurado no ano passado, o InterCity Premium Montevideo expandiu a marca para a América Latina.
Segundo o diretor-geral da InterCity, houve convites da Argentina e do Chile, mas o foco continua no Brasil. Para as 16 próximas unidades, em 10 cidades brasileiras, os parceiros investidores devem aplicar cerca de R$ 400 milhões.
A InterCity também atua no segmento de condo-hotéis, semelhante ao dos apart-hotéis. O custo de um apartamento é de cerca de R$ 250 mil. Algumas das unidades da marca foram financiadas por um pool de investidores.
Aos 45 anos e pai de duas filhas, Gehlen estima que será no próximo ano, e não em 2014, o melhor momento para o setor. Para o empresário, a realização da Copa do Mundo no país não é garantia de bom desempenho da hotelaria e dá a receita para a Capital:
- Mais do que tudo, Porto Alegre precisa da revitalização do Cais do Porto. Caso se concretize, vai permitir que os turistas corporativos ampliem a permanência na cidade.
A qualificação é outra preocupação da empresa, que deve investir R$ 1 milhão em treinamento nos próximos dois anos e estuda parcerias com o Sebrae. Gehlen agora pratica tênis, pois sabe que no setor hoteleiro, como no esporte, é preciso estar com os reflexos em dia.