Internada há 20 dias no Hospital Santa Terezinha, em Paim Filho, no norte do Estado, uma gestante que deve dar à luz gêmeos corre risco de perder os bebês por falta de leito em UTI Neonatal. Mesmo com uma liminar concedida pela Justiça de Sananduva, a família não conseguiu vagas para transferir a paciente.
A faxineira Angélica Urbano dos Santos, 31 anos, passou as últimas 33 semanas preparando a chegada dos gêmeos. Por ser uma gravidez de risco, a secretaria de saúde do município conduziu a gestante a Passo Fundo mensalmente, para a realização de todas as consultas e exames do pré-natal. As roupinhas guardadas com carinho, estão prontas para agasalhar Rafael e Ariela assim que chegarem ao mundo.
Mas tanto cuidado esbarrou na falta de estrutura do sistema de saúde público. Ela chegou ao hospital com 30 semanas em trabalho de parto, mas no momento de transferi-la para o Hospital São Vicente de Paulo, em Passo Fundo, a paciente foi recusada por falta de leito para os bebês. Foi então que profissionais do hospital e da secretaria municipal de saúde deram início a uma maratona em busca de vagas.
- Já fui pessoalmente a Porto Alegre para pedir, até agora não conseguimos nada, conta o prefeito Ceser Adriano Beuren(PT).
Desde que foi internada no hospital há 20 dias, Angélica já entrou em trabalho de parto três vezes. Os médicos optaram por ministrar medicação para retardar o nascimento dos gêmeos, mas a situação de saúde se agrava a cada dia.
- Tenho que ficar deitada o dia todo porque um dos bebês está encaixado, prontos pra nascer, estou com medo, salienta Angélica.
O temor da mãe é real. Conforme o médico que a atende, Olando Alberto Caús, é grande o risco de óbito no caso de prematuros.
- Não dá mais para retardar o parto e sem condições, sem respirador, os bebês podem vir a óbito, se nascer aqui provavelmente é o que vai acontecer_ avalia.
Sem vagas
Hospital de baixa complexidade, o Santa Terezinha não tem centro de terapia intensiva e é autorizado apenas a realizar pequenas cirurgias.
Com medo e cansados de esperar, a família de Angélica ingressou com ação judicial para garantir o direito da paciente. Uma liminar concedida pela juíza Daniela Conceição Zorzi no dia 6 de junho, determinou que o Estado obtivesse duas vagas de CTI Neonatal em hospital público, ou particular pago pelo Estado, imediatamente.
Caso não cumpra a medida, uma multa de R$1 mil por dia deve ser aplicada. Mas até agora a Central de Leitos não encontrou vagas. Para o presidente do hospital Altair Benetti, a necessidade de transferência da paciente é extrema.
- É um descaso total dos órgãos competentes, falta de valor à vida humana_ desabafa.
CONTRAPONTO
O que diz o secretário adjunto da Secretaria Estadual de Saúde, Elemar Sand:
"O caso vem sendo monitorado pela central de leitos e não houve transferência da paciente por não ser ainda o momento do parto. Obviamente nos preocupamos, porque é um município pequeno e quando chegar a hora terá que ser transferida, mas está em um hospital bom, com médico experiente. Este não é o único caso no estado, há uma lista de pessoas esperando por vaga. Precisamos melhorar, ampliar número de leitos e de UTIs móveis, são desafios que temos pela frente. Não posso polemizar com o judiciário, mas se estivesse internada desde a liminar da justiça, estaria ocupando um leito há seis dias sem necessidade, tomando o lugar de outros que estão precisando mais".
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