Ao pedir providências contra uma conduta que considerou preconceituosa por parte de policiais militares, um promotor de vendas de 31 anos, de Caxias do Sul, pode ter se transformado em vítima da intolerância.
PMs o teriam sequestrado em frente ao prédio que concentra cinco delegacias na cidade para que não registrasse suposta negligência de colegas no atendimento de uma ocorrência. Homossexual assumido, o promotor de vendas teria sido agredido e humilhado durante 45 minutos. Os ataques teriam ocorrido dentro de uma viatura e de um módulo da Brigada Militar.
Acreditando ser vítima de homofobia e de preconceito, o rapaz procurou a Polícia Civil. Ele fez exame de lesão corporal, que atestou ferimentos.
O inquérito policial indiciando seis PMs está sob análise do Judiciário. Cópia do inquérito da Civil foi encaminhada à Corregedoria da BM, em Porto Alegre. Os PMs seguem trabalhando.
A vida do rapaz mudou minutos antes das 22h do dia 11 de fevereiro. Ele estava no Parque dos Macaquinhos, no centro de Caxias, e disse ter encontrado uma jovem. Enquanto caminhavam, teriam sido alvo de comentários homofóbicos por usuários do parque.
O jovem foi até o módulo da BM, no próprio parque. Ele relatou a situação a uma policial e pediu que ela conversasse com os autores da agressão verbal. A brigadiana teria dito não poder sair do módulo - e xingado o rapaz.
Neste instante, apareceu outra policial, sem farda. Após ouvir a versão da colega, teria golpeado o rosto do rapaz com um revólver. O jovem disse que iria à delegacia registrar ocorrência. No plantão, informado de que não havia policiais para registrar seu caso, saiu para fumar. Desceu um lance de escada até o térreo da DP, e usou o celular. Três brigadianos desembarcaram de uma viatura e um deles teria arrancado-lhe o telefone da mão. O promotor afirmou estar ali para fazer um registro contra duas colegas dos PMs.
Jovem disse ter ficado com medo de morrer
Levado até a viatura, o jovem teria sido agredido enquanto o carro deixava o estacionamento da DP. Ninguém percebeu que uma câmera de vigilância gravava a cena.
Algemado no banco traseiro, o jovem teria sido soqueado no braço e no tórax. Segundo ele, a viatura entrou no Parque dos Macaquinhos e parou ao lado do módulo da BM.
Pelo próprio relato, o promotor foi posto em um banco e assistiu aos PMs esvaziarem sua bolsa. Eles o teriam chamado de "veado" e de "bicha", afirma. Conforme o rapaz, os policiais diziam que era desta forma que se tratava homossexuais. Ao informar ser morador da Zona Norte, teria sido chamado de "favelado". De acordo com o rapaz, apenas um dos seis PMs indiciados não o agrediu.
Depois de quase 40 minutos, o rapaz foi liberado sem a Carteira de Identidade e o celular. Quando um policial abriu a tranca das algemas, o jovem recolheu seus objetos e correu. Decidiu voltar à delegacia. No corredor da delegacia, chamou um policial civil, que teria lhe dados as costas e entrado no prédio. O jovem caiu de joelhos antes de entrar na delegacia. Toda a sequência está gravada.
Quando chegou ao saguão da DP, o mesmo policial encontrado no corredor teria afirmado que ali ninguém faria registro contra a BM. O policial teria aconselhado o rapaz a não retornar.
A conduta do policial é investigada em um inquérito separado. Os PMs envolvidos no caso registraram ocorrência relatando que o jovem invadira o posto da BM nos Macaquinhos, transtornado, e teria tentado agredir uma PM.
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