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Uma resposta com teor machista do presidente do Atlético-GO contra a repórter Nathalia Freitas, da Globo, gerou indignação especialmente entre as mulheres que compõem a imprensa esportiva.
Adson Batista afirmou que a jornalista havia poupado críticas a um jogador por considerá-lo "bonitinho". A fala incomodou a profissional, que deixou a sala de coletivas antes do final da manifestação do dirigente.
O caso ocorreu no Estádio Antonio Accioly. O Atlético-GO havia empatado em 0 a 0 com o Goianésia. Furioso com o desempenho do time, Adson (conhecido por se envolver em polêmicas) criticava os atletas. Nathalia questionou sobre o futuro de Shaylon, jogador que tinha sido hostilizado pela torcida. Seguiu-se o seguinte diálogo, a partir da resposta do presidente:
— Não vamos falar só do Shaylon. Nathalia, te respeito e vejo que você acompanha e conhece futebol. Alguém se salvou nesse time hoje?
Nathalia sugeriu que Alê não tinha ido mal. Adson, então, fez a declaração machista:
— Não, ele errou pra caramba. Teve um chutes ali, mas pode render muito mais. Acho que você achou ele bonitinho, só isso.
A repórter, é claro, não gostou e respondeu:
— Não vou aceitar. Sou profissional e acho que você fez essa brincadeira porque sou mulher. Isso acaba afetando o meu profissionalismo.
Adson foi além, e pediu que Nathalia estava "se vitimizando" e que não queria que ocorresse um "barraco". A repórter, então, saiu da coletiva.
A jornalista ainda não quis se manifestar sobre o ocorrido. Em suas redes sociais, agradeceu o apoio recebido. Em nota, Adson pediu desculpas: "Em nenhum momento minha intenção foi ofender ou desrespeitar você, que considero uma profissional de muito bom nível. Entendo que, em situações como essa, o humor pode ser mal-interpretado, e lamento profundamente se a brincadeira a fez se sentir desconfortável".
A situação gerou indignação, especialmente entre as mulheres da imprensa esportiva. Consultada por Zero Hora, a narradora da Globo Renata Silveira afirmou:
— Nossa luta é diária, é cansativo demais. Quando achamos que chegamos, que conquistamos nossos espaços, vem uma situação dessas. Não é uma exceção. Já teve outros casos assim, ainda mais por ele. É muito ruim ter de provar a todo tempo que somos profissionais e não ter nosso trabalho diminuído só por ser mulher. Duvido que ele teria dado essa resposta para um homem. Preciso medir as palavras para não usar algum termo baixo. Ele não tem profissionalismo, não entende a cadeira que ocupa. A Nathalia fez certo em sair da entrevista. É uma situação pavorosa.
Marília Ruiz, do UOL e da Band, complementou:
— Em 2025, uma gracinha é sucedida de uma nota de esclarecimento, dizendo que o humor às vezes é mal interpretado. Não, o machismo às vezes é tolerado. Aliás, na maioria das vezes no futebol, o machismo é tolerado, é considerado um gracejo. O trabalho da mulher é minimizado, menosprezado, diminuído, como se a aferição da beleza de um jogador fosse o que interessava ou deixasse de interessar uma repórter esportiva.
Segundo ela, ações como esta acontecem todo dia, choca e causa repulsa.
— Dessa vez o microfone pegou, mas nós mulheres escutamos isso todos os dias dentro da redação, dentro da sala de imprensa, dentro de uma cobertura. E dos nossos colegas que acham que mulheres estão ocupando cotas, ou mulheres entendem menos, ou mulheres podem fazer comentários teoricamente menos importantes, como se alguém é bonito ou não. Eu acho que a nossa luta, assim como a luta antirracista, ela precisa ser uma luta dos homens. Quem tem que se posicionar numa hora em que é um machismo explícito são os homens. Espero que esse caso sirva pra que a gente se eduque também como classe jornalística.
A apresentadora do Globo Esporte RS, Alice Bastos Neves, aponta:
— É muito triste, fico sinceramente cansada de tratar desse tema à exaustão, porque vai continuar acontecendo. Minha solidariedade a Nathalia. Espero realmente que ela, na próxima entrevista volte a fazer o trabalho do jeito que merece, no espaço que também é dela e de todos. E teve a fala do "barraco", com a pecha de que a mulher que se posiciona faz barraco. Isso também é muito complexo e mostra como é só aparente a evolução.