Fotos de Armindo Antônio Ranzolin com o microfone e referências ao rádio passavam em um telão colocado acima do caixão na Capela Ecumênica do Crematório Metropolitano, em Porto Alegre, na manhã desta quinta-feira (18). Junto ao corpo, um rosário vermelho e o eterno companheiro: um radinho preto, que ele adorava.
No local, mais de uma dezena de coroas de flores cercavam o espaço que ao longo de toda a manhã passou tomado por amigos e familiares do ex-comunicador, que morreu na quarta (17), aos 84 anos, em consequência de Alzheimer, doença que o acompanhava há 16 anos. Ele estava internado desde o dia 6 de agosto no Hospital São Francisco, da Santa Casa de Misericórdia da Capital, por conta de um quadro de pneumonia. O velório segue até o início da tarde e, a partir das 15h, está prevista uma cerimônia fúnebre aberta ao público. Depois, o corpo será cremado.
Emocionada, a filha Cristina Ranzolin, apresentadora do Jornal do Almoço, da RBS TV, carregou durante todo o tempo um terço enquanto recebia as condolências e conversava com as pessoas que prestavam a última homenagem a seu pai. Ela agradeceu por todas as mensagens de carinho que a família tem recebido e falou sobre o homem que lhe inspirou a se tornar jornalista.
— Foi um pai maravilhoso. Um gigante. Para os filhos, os tios, os amigos, sempre foi uma pessoa que nos confortou. É um orgulho muito grande para mim ser filha dele. Ontem (quarta), depois de recebermos a notícia, abracei a minha mãe e a agradeci por ter escolhido esse pai — disse Cristina.
Ricardo, o outro filho de Armindo Antônio Ranzolin, também cumprimentava as pessoas e circulava pela capela para receber a solidariedade de todos que chegavam ao local. Ele lembrou das coisas que o pai gostava, como o rádio, o futebol e o jogo de botão. E se disse surpreso com o tanto de mensagens que tem recebido para falar sobre o pai.
— Fiquei impactado, porque ele estava fora do rádio há 17 anos. Mas as pessoas ainda têm essa memória dele. Até mesmo jovens, de uma geração que não era viva ainda quando ele narrava, têm essas lembranças, certamente porque ouviram na internet, as reproduções no rádio. Esse carinho nos impactou mesmo — relatou.
Os últimos anos, no entanto, foram difíceis. A memória já muito afetada. A locomoção, cada vez mais complicada. Mas sempre com o cuidado da família, especialmente da esposa Yara, que passou praticamente todo o tempo do velório próxima ao caixão. Recebia as condolências, mas todas ali, próxima ao corpo do marido.
— Os últimos nove anos foram mais complicados, com uma convivência difícil. Essa doença tem momentos. Primeiro a pessoa sofre, porque começa a esquecer das coisas e isso gera uma angústia. Depois começa a agravar, mas a família protegeu e cuidou muito bem do Armindo, e a gente começa a entender por que ele era uma pessoa e um profissional tão bom, porque sempre teve uma grande família por trás — ressalta Paulo Roberto Falcão, genro de Ranzolin.
Antônia, filha de Cristina e Falcão, neta de Ranzolin, pouca convivência teve com o avô. Ela tem 18 anos e conta que a doença do ex-comunicador limitou a relação entre eles, já que Armindo Antônio foi diagnosticado com Alzheimer há 16 anos. Mas tudo o que ouviu dos pais, da avó e de todos que o conheceram lhe faz sentir orgulho da pessoa que era o seu avô.
— Curti muito pouco o vô. Quando eu tinha dois anos, ele foi diagnosticado com a doença, então tenho pouca memória dele bem. Mas sempre ouvi todo o carinho. Muita gente mandou mensagem, todos falando do ser humano que ele foi e infelizmente eu não conheci. Mas fico orgulhosa por ser neta dele, por ter sido um ótimo pai para a minha mãe, um ótimo marido para a minha avó e uma ótima pessoa. É um orgulho levar o sobrenome dele — destacou a neta.
Uma presença, porém, chamava atenção: o irmão de Armindo, Ivan, um ano e meio mais novo, mas de uma semelhança ímpar. Ex-deputado, ele mora em Lages, no oeste de Santa Catarina, e veio para a despedida do irmão. Contou que eles eram confundidos com frequência, tanto pela aparência física quanto pela semelhança da voz:
— Muitas pessoas confundiam. Uma vez ele foi na casa da nossa mãe e uma pessoa o abordou no caminho e falou: "Deputado, o senhor me consegue R$ 50 para comprar gás de cozinha". Ele falou que não era deputado, e o homem virou para ele e respondeu: "Eu sempre digo que todo político é mentiroso". Essa era uma confusão comum. É um momento triste por não termos mais ele, mas a história dele ficará viva para sempre.
Com essa memória, do grande comunicador, do marido, do pai, do irmão, do avô e da pessoa que foi Armindo Antônio Ranzolin é que todos se despediram deste ícone do rádio brasileiro.