MISSISSAUGA, Ontário – O jogador esguio de 1,98 m com tênis azul esverdeado flutua na quadra de defesa e o armador do time oposto faz um passe simples demais e…
Oh-oh.
O garoto alto muda a direção da jogada em um piscar de olhos, estica o braço impossivelmente longo, no melhor estilo Durant, arranca o passe do ar e, após quatro longas passadas, chega ao outro extremo da quadra e fica suspenso no ar até enterrar a bola no aro.
A torcida presente nesse ginásio de uma escola de ensino médio grita e aplaude e, ah, sim, claro, aquele garoto com excelente visão de quadra que acabou de lançar a bola sem nenhum esforço aparente? Ele tem 14 anos e está no primeiro ano do ensino médio. Elias Sbiet, diretor de recrutamento do North Pole Hoops e defensor do basquete canadense, cumprimentou-o e exclamou: "Este dia acabou de se tornar uma vitória para mim. Perfeito!"
Sbiet quis dizer que ele, provavelmente, acabara de descobrir outra joia do basquete em Mississauga, mais um em uma longa fila de talentos do basquete saindo do Grande Norte.
O Toronto Raptors é o símbolo mais visível e celebrado dessa impressionante explosão de basquete mais ao norte da fronteira. O hóquei segue sendo o rei do Canadá, mas o basquete é o inquieto príncipe herdeiro.
Mais de 20.000 fãs lotaram a Celebration Square, no centro de Mississauga, para assistir aos jogos do Raptors em uma tela gigante. Outros muitos milhares fizeram o mesmo na Garden Square, subúrbio localizado a noroeste, predominantemente habitado por sul-asiáticos.
Ainda mais chocante é a heresia a seguir: uma nova pesquisa revela que mais jovens canadenses, entre homens e mulheres, querem assistir aos Raptors do que à Stanley Cup (torneio de hóquei nacional).
"Somos canadenses, por isso o hóquei ainda tem uma grande presença. Mas a vantagem do basquete é ser um esporte que só precisa de uma bola e um par de tênis. Tendo isso, tem jogo", disse Sbiet, filho de pais palestinos que cresceu jogando como armador com o irmão, Tariq, em um conjunto habitacional de Mississauga.
Mississauga e a vizinha Toronto têm onze jogadores canadenses nativos na NBA, incluindo Tristan Thompson, Nik Stauskas, Andrew Wiggins e Kelly Olynyk. Jamal Murray, ala-armador do Denver Nuggets, cresceu mais a oeste, em Kitchener, Ontário. O Raptors tem um canadense, Chris Boucher do Montreal North, no elenco.
"Descobri Jamal driblando horas antes do jogo com luvas de jardineiro para melhorar sua aderência à bola. Ele estava jogando contra garotos dois anos mais velhos e mesmo assim dominava a quadra", relatou Sbiet, cujo trabalho para o North Pole Hoops inclui revelar e avaliar talentos.
Devido a múltiplos e implacáveis fracassos, o Knicks ganhou a terceira escolha no evento anual de recrutamento de novos jogadores para a NBA, chamado de "draft" em inglês, em 20 de junho. É esperado que se escolha R. J. Barrett, excelente arremessador de 2,1 m que veio de Mississauga antes de passar brevemente por Duke.
O Raptors desencadeou e alimentou esse fenômeno: a torcida pelos times beira a obsessão. Mas a imigração oferece uma explicação mais consistente.
Hoje em dia, o preconceito contra os imigrantes está sendo mais disseminado do que gripe em algumas regiões ao sul da fronteira canadense, mas Mississauga e áreas de Toronto foram construídas, pedra sobre pedra, pelo trabalho árduo de sudaneses, indianos, lituanos, chineses, filipinos, palestinos, egípcios, poloneses, senegaleses e imigrantes das Índias Ocidentais, entre outros.
E, a partir dessa nascente, corre um rio de talentos do basquete. Para uma criança da classe operária cuja família é de Manila, nas Filipinas; Cartum, no Sudão; ou Kingston, na Jamaica, o hóquei no gelo pode trazer um problema de tradução cultural, sem mencionar o desafio de pagar pelos esquis e protetores e para se associar a um clube e aprender a deslizar para trás mantendo o corpo reto. O basquete oferece uma porta de entrada muito mais fácil.
A rivalidade é grande. Toronto, com uma população de aproximadamente 2,9 milhões de pessoas, e Mississauga, com seus quase 800.000, competem para ver que cidade vai ser nomeada o verdadeiro polo do basquete. Quando americanos escrevem sobre os astros do basquete do país, é inevitável caírem na tentação de dizer "os talentos de Toronto". Nem preciso dizer que isso leva os defensores de Mississauga à loucura.
"Ouço dizerem que R. J. Barrett é de Toronto: não, não, não", disse Sbiet, que, após uma pausa, fez graça do bairrismo. "Tudo bem. Entendo. Quando você diz 'Mississauga', todo mundo retruca: 'O que é isso?'"
Embora apenas Toronto marque presença nas quadras da NBA, o basquete está cada vez mais cheio de canadenses. Do bairro operário de Montreal North já saíram profissionais e quase profissionais. A Colúmbia Britânica também está formidável e pode se gabar de ser o lar do ex-armador Steve Nash.
Há muito mais por vir. Embora apenas Toronto marque presença nas quadras da NBA, o basquete está cada vez mais cheio de canadenses. Do bairro operário de Montreal North já saíram profissionais e quase profissionais. A Colúmbia Britânica também está formidável e pode se gabar de ser o lar do ex-armador Steve Nash. Além disso, Sbiet disse que o esporte nas cidades de Saskatoon e Calgary está repleto de sudaneses e camaroneses.
A fama tem seu lado ruim. O oportunista mercado dos tênis ficou sabendo da euforia do basquete canadense e, ao ver jogadores canadenses aos montes nos melhores programas universitários americanos, apontou a mira para o norte. "Outro dia eu ia tuitar sobre um garoto e eles o levaram para os EUA", disse Sbiet a respeito das fabricantes de tênis.
"Eles" seriam os aliciadores que ficam sussurrando aos jovens talentos: você prefere jogar no Mississauga Monarchs, talvez o melhor programa de basquete juvenil da região, ou prefere assinar um contrato com uma equipe patrocinada por uma empresa de tênis capaz de levá-lo aos torneios mais cobiçados ao sul da fronteira? Você quer jogar no time de uma escola secundária regional ou frequentar uma escola preparatória nos Estados Unidos, agora que o Canadá reivindicou o mesmo papel dos clubes esportivos europeus?
"Antes, aqui, você jogava três esportes durante o ensino médio, não mais. Agora, para os melhores garotos, é o ano inteiro, todos os fins de semana, vários times", comparou Jason Fowler, membro do conselho do Mississauga Monarchs, cujas inscrições para o basquete dobraram, de cinco anos para cá, para seis mil meninos e meninas, com idades que variam entre 8 e 18 anos.
Nenhuma dessas decisões é fácil de ser tomada. Os melhores jogadores, aqueles que poderão ganhar milhões de dólares como profissionais, podem fazer a escolha certa ao saírem.
Barrett começou sua carreira em uma escola de ensino médio do Canadá, mas rapidamente trocou a instituição pela Montverde Academy, uma fábrica preparatória de jogadores de basquete na Flórida Central, onde pôde aprimorar seu talento jogando contra os melhores jogadores juvenis do continente. "R. J. Barrett precisava ir para os Estados Unidos", declarou Sbiet.
Os pais, fascinados e preocupados na mesma medida, estão na primeira fila dessa corrida pelo ouro. Em um sábado recente, sentei-me por alguns minutos nas arquibancadas da escola secundária de Mississauga com Yvonne Rowe Samadhin e seu marido, Mark. Ambos são profissionais da área da saúde.
Assistimos ao filho deles, Julian, jogar como armador para o Monarchs. Ele tem 16 anos, é ágil com a cesta e sonha com uma carreira universitária. Os pais amam o basquete, mas parecem desconcertados com o grande número de novos talentos surgindo e com as expectativas intrínsecas ao jogo.
"Há muita pressão sobre esses meninos hoje em dia. Estamos muito atentos aos técnicos. Eles precisam saber lidar com a cabeça de jovens adolescentes", disse a mãe de Julian.
Eles conversam com Julian sobre a necessidade de estudar e encontrar o equilíbrio, e sobre o basquete como um meio para um fim maior. Ele faz que entende com a cabeça e pede para aceitar outro jogo e mais outro após aquele. Ele é um autêntico Mississaugan.
Ah, a propósito: sabe aquele menino esguio de 14 anos, que tem drible, visão de quadra e arremessos excelentes? O nome dele é Dylan Grant. Sugiro que você compre ações de longo prazo para apostar na carreira dele.
Por Michael Powell