A vida é feita de ciclos, e o Internacional viveu seu melhor período entre 2005 e 2011. Da Série A roubada no canetaço até a conquista da Recopa, o Colorado manteve uma filosofia de futebol alinhada com a cultura do clube: times altos, fortes, jogando de maneira objetiva e ofensiva, com técnica. De líderes, multicampeões, conceitos transparentes e objetivos ambiciosos. Vencer ou vencer.
Essa ideia vem de longe. Reflete o "futebol total" copiado da Holanda e aplicado por Rubens Minelli nos anos 1970. Com as nuances do contexto histórico, times ousados formaram a cultura vermelha desde o "Rolo Compressor" e o "Rolinho" nos anos 1940 e 1950. Representa uma ideal de filosofia de futebol: jogar para vencer em casa e fora com características específicas da cultura do time, tal qual o Barcelona e o "tiki-taka", ou a Juventus e seus paredões defensivos.
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Para o colorado dos Eucaliptos, do velho Beira-Rio ou do estádio mundialista de 2014, nada de jogar por uma bola, recuado na defesa. Isso não é nosso. Somos da loucura abeliana do Gre-Nal do Século, de não temer o Barcelona ou São Paulo no Morumbi. Dez dos 11 melhores desempenhos colorados de visitante são nos nacionais de 1971 a 1980 (2006 com Abel é a intrusão).
Porém o Inter não ganha uma partida de mata-mata como visitante no Exterior desde o 2 a 1 contra o Chivas na final de 2010. No Brasil não é diferente: há 25 anos, não vence um time grande em uma eliminatória longe (2x0 no Palmeiras, semifinais da Copa do Brasil de 92).
Essa retomada é necessária: definir um conjunto de ideias e ações que perdurem entre gestões e não semestres. Contratar profissionais (executivos, treinadores e jogadores) alinhados a essa ideia. Avaliar os profissionais na execução da mesma e, caso não obtenham desempenho e resultados, trocar por outros imbuídos destes conceitos.
Não é admissível chegarmos à metade da temporada e ouvir de um dirigente a frase: "Agora é um novo técnico, uma nova ideia". Manter base do elenco, equilibrando todos os setores (direita, esquerda, defesa, meio e ataque), utilizando análise de desempenho para avaliar o time, garimpar reforços e reposição é, apenas, obrigação. O algo mais é obtido quando se define uma filosofia de trabalho a longo prazo, estratégica e que reflita o ideal de um time colorado. No caso, ofensivo, marcando forte e objetivo. "Pra dentro deles"!
*ZHESPORTES