São 20 degraus entre o túnel e o gramado do Estádio Atanasio Girardot, em Medellín. E parecia que a qualquer momento os jogadores da Chapecoense emergiriam dali, marchando, degrau por degrau, enfileirados, para ingressar na arena do Atlético Nacional. Era sonho.
Na hora exata prevista para o início da partida, às 18h45min (21h45min em Brasília), não houve em entrada em campo nem chute inicial. Muito menos gol.
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Os 20 degraus que deveriam ser percorridos pelos jogadores foram ocupados por homens da Polícia Militar, que transportaram coroas de flores de várias entidades e instituições, entre elas a Conmebol, a prefeitura de Medellín e as forças armadas colombianas. Juan José Chalarca, 30 anos, e a namorada Anamaria Londoño, 26, torcedores do Atlético Nacional, vestiam branco e trouxeram de casa sua própria coroa de flores, posicionada ao lado do gramado, que na noite passada não tinha divisão com a arquibancada. Juan José conta que, desde segunda-feira, quando soube da tragédia, não consegue dormir bem.
– Desde que soube da notícia passamos a tomar parte da família Chapecoense, pensando em cada família, nos filhos, nos jogadores, nos jornalistas. Desde esse momento, a história dessa cidade se dividiu. Já é um acontecimento para lamentar que nos congrega a todos.
Atrás do local onde ficariam as goleiras, retiradas do gramado, foram posicionadas faixas: "Uma nova família nasce" estava escrito em preto numa faixa branca em um dos cantos. No lado oposto, outra inscrição em verde e branco, as cores da Chapecoense: "O futebol não tem fronteiras". Perto dali, Juan Camilo Echevarria, 30 anos, não esperou a ordem da organização do evento para que que as velas fossem acesas. Desde que chegou, posicionou várias flores próximo ao gramado e fez uma oração.
– Muito ânimo às famílias. Que Deus as bendiga – afirmou
Nas camisetas, todas brancas, podia-se ler inscrições de apoio como "Estamos contigo"ou "Família Chapecoense". Uma delas, vendida por ambulantes, trazia uma frase que resumia a busca do time catarinense em Bogotá: "Vinham em busca de um sonho, voltam como uma lenda".
A tragédia abreviou o sonho da Chapecoense – era vir a Medellín, nunca a equipe catarinense havia ido tão longe em um campeonato internacional, garantir vantagem para o jogo de volta e, em casa, presentear os torcedores com a taça da Sul-Americana. Não houve a desejada final. Mas, ironicamente, bastava olhar para cada torcedor do rival Atlético Nacional, irmanado em pensamento com os que estavam na Arena Condá, a milhares quilômetros de distância, para ter certeza de que o sonho da Chapecoense está mais vivo do que nunca.
*ZHESPORTES