Fora do grupo de elite dos treinadores do continente, Fernando Santos, um experiente homem de futebol com formação universitária, leva a surpreendente seleção de Portugal à final da Eurocopa 2016 contra a favorita França neste domingo, às 16h.
Procuro e acho Jorge Baidek, 56 anos. O popular ex-zagueiro gremista e agente Fifa, com trânsito fácil no Brasil, na Europa, especialmente em Portugal, na China e no Oriente Médio, fala sobre Fernando Santos, treinador que ajudou a posicionar a desacreditada equipe de Portugal na decisão da Euro 2016 deste domingo contra a favorita França. Faz 10 jogos, 40 anos, que os franceses não perdem para os portugueses.
Gaúcho de Barão de Cotegipe, que vive entre Porto Alegre e Lisboa, endereços dos seus escritórios, Baidek conhece Santos, 61 anos, desde os anos 1990._ Somos amigos de longa data, o que me faz acompanhar o trabalho dele com grande interesse.
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De memória, Baidek, que defendeu o Belenense (1987-1992), logo começa a alinhar os times que o lisboeta Santos dirigiu em 30 anos de carreira. Em Portugal, liderou Porto, Benfica e Sporting (quando se fez amigo de Jardel e animou o ex-9 histórico do Grêmio, hoje enterrado na política, a trocar de país, retomar a carreira e jogar no inglês Bolton, em 2003). Cita as jornadas de Santos na Grécia, com AEK, Panathinaikos, Paok e a seleção nacional, que caiu nas oitavas de final da Copa do Mundo do Brasil de 2014.
– Os portugueses o conhecem como "engenheiro", que é a formação universitária dele. É um sujeito tranquilo, afável, às vezes estressado na beira do campo, e bom de grupo. Foi o primeiro treinador português a dirigir os três clubes mais populares do país.
Pergunto se é possível comparar o engenheiro, no cargo desde setembro de 2014, com um colega brasileiro.
– Claro, Ênio Andrade (1928-1997), o treinador que foi campeão brasileiro pela Dupla. Trabalhei com o Ênio no Grêmio. Os estilos são semelhantes. O trabalho tático é qualificado, mas a conversa no pé do ouvido funciona bem. Ele é um grande gestor de pessoas. Sabe tratar a estrela e a jovem promessa. Todos gostam dele.
Pergunto, meio incrédulo.
– Mesmo com Cristiano Ronaldo?
Baidekão responde:
– Especialmente Cristiano Ronaldo, a quem conheço desde os 11 anos. Não é fácil o CR7, com todo o status que tem, seguir ordens de um treinador. O sucesso está na união de experientes e novos. Ele recuperou bons atletas que não queriam mais nada com a seleção e conseguiu à classificação a Euro com sete vitórias em sete jogos.
Santos, com quatro empates e duas vitórias na fase de grupos antes da final do torneio, surpreendeu até os conterrâneos, como o jornalista Miguel Lourenço Pereira, 32 anos, nascido na Cidade do Porto. Ele definiu o treinador: "Homem de paz que esquiva sempre o confronto e a polêmica, é a figura diametralmente oposta ao perfil de selecionador que existe desde 2000 (Felipão entre eles). Santos é um homem popular no mundo do futebol português". Pereira não considera Santos, cinco títulos com clubes portugueses, um treinador da elite da Europa.
A imensa maioria dos torcedores portugueses pedia o icônico José Mourinho, 53 anos, um dos melhores do mundo, no comando da seleção, depois da queda de Paulo Bento, 47 anos, hoje no Cruzeiro. Mourinho fez que não ouviu a convocação patriótica e a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) nem se mexeu.
Santos ganhou o cargo, em 2014, por falta de grandes interessados. O salário não era dos melhores. A FPF estava em crise. Pior. O treinador havia sido punido com oito jogos de suspensão (caiu para dois mais tarde) por ter insultado o árbitro que apitou Grécia e Costa Rica, em Recife, no Mundial de 2014. Os gregos foram desclassificados nos pênaltis. A Cota Rica avançou.
Na Euro 2004, quando Portugal, com Felipão, foi derrotado pela desacreditada Grécia, o treinador da final de 2016 comentou a decisão para uma rádio de Lisboa. Na época, treinava o AEK, de Atenas. Hoje, em busca do primeiro título da história da seleção portuguesa, está mais otimista, como falou ao site da Uefa:
– Não somos o melhor do mundo, mas, com este grupo e espírito fantásticos, tudo é possível. Agora vamos disputar a final para ganhar, porque as finais são para isso. As finais não se jogam, ganham-se.
Parece a voz do campeão Ênio no Inter de 1979, eco no Grêmio de 1981.