É bom trocar ideias com especialistas. É ótimo quando o paulista José Colagrossi fica ao alcance do radar da coluna. O diretor executivo do Ibope Repucom, formado em Marketing pela Fairleigh Dickinson University (FDU) e com MBA pela Columbia University, nos Estados Unidos, consegue observar o futebol que poucos enxergam. Aquele que sai das quatro linhas, passa pelo vestiário, entra nas salas refrigeradas, toca nos patrocinadores e não se encerra na sala da TV. Não termina no confortável espectador do sofá.
– Noto no futebol brasileiro uma mistura de preocupação e otimismo. Há a Copa de 2014, pura humilhação, a corrupção da Fifa, que atingiu o mundo, e o crescimentos dos outros esportes no país, como vôlei e basquete. E, claro, a exposição do futebol europeu compete com os nossos campeonatos – ele afirma.
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Enquanto Colagrossi fala ao telefone no meio da tarde, os aparelhos de tela gigante da Redação de ZH exibem um amistoso de pré-temporada 2016-2017 entre o Bayern de Munique e Manchester City (1 a 0) na Alemanha. A Europa nunca desliga. Liga os outros.
– O futebol europeu briga no mercado doméstico com o brasileiro. Os clubes espanhóis são os preferidos. O Barcelona lidera com 28%. O Real Madrid é segundo, tem 18%.
Pergunto se a Europa, abrigo milionário dos craques do globo, pode danificar de verdade o nosso pobre futebol. Colagrossi, que acumula mais de 10 anos de experiência no segmento de pesquisas de marketing esportivo e patrocínio, no Brasil e em mercados internacionais, responde. É direto:
– Pesquisas mostram que 3% a 5% dos brasileiros entre 16 e 29 anos só torcem por times estrangeiros. O interesse dos jovens pelos times europeus vem crescendo consistentemente nos últimos anos e se deve, principalmente, à presença dos melhores jogadores do mundo nos campeonatos do velho continente, ao crescimento da cobertura do futebol europeu pela mídia brasileira e ao aumento do número de assinantes de TV paga no Brasil.
Ele continua:
– Mas ele não tem paixão pelo Barça ou pelo Madrid, por exemplo. Não goza e nem é gozado na escola, no encontro entre amigos, no bar, como quando jogam Grêmio e Inter. Não tem aquele clima. Não chora. Fica feliz. É simpatizante e não torcedor. Há uma diferença.
– Falta paixão? – questiono.
– O que vai salvar o futebol brasileiro é a paixão, mas também outro calendário, a promoção pelas mídias sociais e o engajamento entre clubes e torcedores, que precisa ser reconhecido pela sua paixão. O clube precisa dar voz a ele.
Não só o fã, os clubes precisam trazer os patrocinadores que se afastaram e cativar novos. O poder da Europa é tremendo. O calendário é bom, as celebridades estão quase todas lá, a TV faz uma cobertura quase perfeita. As imagens rolam na internet o tempo todo.
– A crise financeira afastou patrocinadores. A má imagem do futebol, não só a do Brasil, colaborou. O patrocinador temeu a rejeição do torcedor. Saiu, mas voltará. Sou otimista. Existem soluções.
Outro problema é que o futebol não corre mais só na TV. Há centenas de atrações, agora via internet. O consumidor está exigente. Não quer só a bola. Pede a celebridade perto dela.
A dupla Gre-Nal, as torcidas, as paixões, as camisas e os patrocinadores:
1) Colagrossi diz que o que dá mais dor de cabeça são as pesquisas sobre o tamanho das torcidas. Ninguém fica feliz com os números. Todos acham que têm mais torcedores do que os números exibem. Tanto que o Ibope não deve publicar os números de 2016. Só abastecerá os clubes: "A cobrança é infernal", garante.
2) Ao contrário da maioria, o diretor do Ibope Rupecom qualifica Grêmio e Inter como times nacionais e não regionais. A Dupla exibe torcida em mais de um Estado, em Santa Catarina, no Paraná, em Mato Grosso, entre outros, devido à migração gaúcha. Há bolsões de torcedores na Bahia e em Pernambuco, sempre visíveis nos jogo
3) O Ibope perguntou: qual o time que o entrevistado torce mais? Flamengo (16%) e Corinthians (14%) lideram. São seguidos por São Paulo (7%) e Palmeiras (5%). Depois, Vasco e Atlético (4%). Então, Grêmio, Inter e Cruzeiro, com 3%. Espanta os que não torcem por nenhum time no país. São 23%.
4) No Estado, os patrocinadores mais lembrados são Banrisul e Tramontina, que em janeiro deixou as camisas da Dupla. O curioso é que, segundo as pesquisas, no Inter, a Nike (14%), parceira nos uniformes, está em segundo lugar na cabeça do fã, com o banco estatal em primeiro (31%) e a Tramontina (10%) em terceiro.