A Polícia Federal investiga um suposto esquema de fraude na execução de projetos com recursos do Ministério do Esporte. A apuração, tornada pública pelo programa Fantástico, da RBS TV, no domingo, revela que a empresa carioca SB Marketing e Promoções vencia de forma ilícita concorrências para fazer a gestão das compras dos equipamentos para federações e clubes.
A investigação cita o nome do Grêmio Náutico União, que obteve cerca de 4,2 milhões para investimentos (R$ 3,4 milhões já utilizados) em projeto aprovado pelo ministério em 2012. Esses investimentos teriam sido feitos com a intermediação da SB.
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Quando faz a liberação da verba, o Ministério do Esporte permite que 15% do valor seja usado para pagar empresas especializadas na execução do projeto, com conhecimento para vencer as barreiras burocráticas. A escolha dessas empresas se dá por concorrência eletrônica no sistema de convênios e contratos de repasse da administração federal (Siconv).
– A SB, no meio, é conhecida porque o dono dela (ex-gerente de relações institucionais da CBV Sérgio Borges) já havia participado de todo o projeto do vôlei e da formação da CBV e feito esse tipo de captação no Ministério do Esporte para outros clubes. Se houve conluio ou cartel entre essas empresas (na concorrência), não sabemos – diz Paulo Prado, vice-presidente do GNU.
A reportagem questiona ainda o processo para compra, pelo GNU, de cadeiras de rodas para atletas de esgrima paraolímpica. No projeto apresentado em 2012, o clube incluiu o nome do esgrimista Jovane Guissoni, ouro em Londres, como beneficiado.
Desde 2008, Guissoni treina com técnicos do clube, que faziam um trabalho voluntário na Asasepode (Associação dos Servidores da Área de Segurança Portadores de Deficiência). Em 2014, a parceria se tornou oficial, com o atleta passando a competir pela equipe União/Asasepode. Questionado se fez a preparação para Londres no GNU, o atleta nega:
– Volta e meia, eu fazia combate no clube. Mas treinava mesmo era na academia da Brigada Militar. Não treinei direto no União. Nos últimos dias antes de Londres, ia duas vezes por semana. Para ter noção, a esgrima era na sede Alto Petrópolis, não havia acessibilidade. Para chegar, havia escada. Por isso, quase não íamos.
Prado garante que, mesmo sem vínculo oficial, o esgrimista poderia ser incluído no projeto por ter usado a estrutura do clube e por ter sido treinado por seus técnicos para a Paraolimpíada de Londres.
Guissoni reclama que treina para a Olimpíada do Rio usando sua antiga cadeira, a qual consertou improvisando um ferro e parafusos. O vice-presidente do GNU garante, no entanto, que o esgrimista contará com um equipamento novo, do Comitê Paraolímpico, nos Jogos do Rio.
O clube garante que a compra das cadeiras ainda não foi feita devido à elevação dos valores em relação aos estipulados no projeto. Uma atualização foi feita e enviada para o Ministério dos Esportes. Da verba inicial, o GNU ainda dispõe de R$ 700 mil e tem prazo até dezembro para usar a quantia. O valor destinado às cadeiras será de cerca de R$ 100 mil.
– De 2012 até 2015, os preços quase dobraram. Ficou impossível comprar pelo valor do projeto. É permitido fazer proposta de reformulação no projeto, abrindo mão de outros equipamentos, como fizemos com o remo e a ginástica artística – explica Prado.
– O dinheiro para a cadeira de rodas saiu do ministério, eles vão ter que prestar conta. É problema deles, não é meu – afirma o atleta paraolímpico.
*ZHESPORTES