O presidente da Comissão Nacional de Arbitragem (Conaf) da CBF, Sérgio Corrêa, está no centro dos protestos dos clubes. O motivo é o rigor dos árbitros ao punir com cartão reclamações de jogadores ou comemorações junto à torcida. Corrêa explica o motivo da medida e anuncia outra iniciativa polêmica: quer fazer uma rodada inteira com juiz do Estado de um dos times.
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Por que a decisão de punir qualquer reclamação?
Não tenho mais observado reclamação de jogador, e sim uma elevação do tempo de bola rolando. Empatamos com a Copa, com 56 minutos (em média). Temos uma média de 29 faltas (por jogo). Apenas um cartão amarelo a mais do que no ano passado. São 0,13% a mais de cartão vermelho. Consideramos números positivos. A maioria dos jogadores entendeu, está jogando futebol, parando de reclamar. E a punição é para reclamação ostensiva. Fizemos uma reunião com treinadores, entregamos circular com orientações. Disponibilizamos instrutores e quatro clubes já solicitaram, sem custo às equipes.
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O desacato estava fora de controle?
Exageradamente fora do limite. Tem de haver respeito. Queremos mais calma, para termos mais respeito e menos pressão. Não vai mais ter aquela agressividade nas arenas, que acaba passando aos torcedores, que imitam seus ídolos, e a sociedade está cada vez mais agressiva, menos tolerante. Futebol profissional tem de ser respeitoso.
Mas a regra é passível de interpretação da arbitragem?
O limite é o árbitro quem vai determinar. Jogadores são experientes, sabem como, quando e a forma de falar. E o árbitro também. É só cada um fazer sua parte. Aquele que for bem, continua. Aquele que for mal, por exemplo, algum jogador fazer um comentário e o árbitro exagera, ele será punido. Não queremos árbitro exagerando. Queremos o limite, que é o respeito. Trate com respeito, que ele tratará com respeito. Alguns árbitros estavam distribuindo cartões de forma ostensiva. Ficaram de fora.
Ficaram fora da rodada seguinte?
Sim. Se o jogador for desrespeitado, o árbitro será punido.
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Está claro para os árbitros que não precisam dar o cartão amarelo por qualquer situação?
Reclamação nenhuma será tolerada. Falar com o árbitro é uma coisa, reclamar é outra. Se o jogador for ostensivo na reclamação, e o árbitro não tomar providência, o árbitro fica fora. Já tivemos seis casos de árbitros que ficaram fora de rodadas por não cumprir o que se está prevendo. Tivemos um caso recente em que o árbitro vai ficar fora. Ele foi muito bem, mas tiveram duas, três entradas em que deixou passar, e colocou em risco (o atleta). Não vai atuar na próxima, vai aprimorar seu entendimento da regra na Série B, C. Não podemos proteger o árbitro nem culpá-lo. Temos de dar o remédio na dose certa.
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Lisandro López, do Inter, foi expulso por reclamação. Você considerou falta de respeito do jogador?
(Corrêa relata o que foi escrito na súmula pelo juiz André Luiz de Freitas Castro) "Ficou em minha volta reclamando ostensivamente. O referido prosseguiu em suas reclamações." O que faltou ao árbitro é dizer quais foram as palavras que levaram Lisandro à expulsão. Ele só colocou o complemento. Já cobrei isso dele.
O juiz vai sofrer alguma punição?
Quero ver a resposta. Ninguém é punido porque acho que deva ser.
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O Vitinho levou cartão por comemorar com a torcida. Não pode?
O jogador não pode comemorar com a torcida, na mureta. Isso vai ter risco. Tivemos caso de quatro crianças esmagadas em jogo da Série A. Na hora em que morrer uma esmagada por alegria, vão lembrar da boate Kiss, de quem é o responsável por proibir o jogador de ir até a escada, a mureta. O jogador tem o campo todo para comemorar. Não vejo o Messi indo na torcida. O Neymar chegou perto, não foi até a mureta.
Por que árbitro local nos jogos?
Na década de 80 já acontecia.
E por que voltar agora?
Eles estão preparados para atuar em qualquer partida. Temos plena confiança no trabalho. Essa mensagem que passamos para eles, que colocamos, acontece desde o ano passado. Colocamos árbitros assistentes locais na primeira rodada, na segunda. Vai ser uma coisa corriqueira? Não. Mas vai continuar acontecendo? Sim. É oportuno e precisamos mostrar que nossos árbitros estão preparados. Não é economia.
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O árbitro gaúcho Anderson Daronco viajou no mesmo voo do Grêmio para Goiás. Não expõe o árbitro que apitará a partida?
Não acredito nisso. Estamos em 2015, e não é possível. Sei que existem muitas situações, que todo mundo é culpado até se provar que é inocente. Se executa antes do cara ser julgado culpado. Mas nós temos de mostrar que somos diferentes, que confiamos nas pessoas.
E tem dado certo?
Sim. Claro que não vai ser toda a semana, mas quando entendermos que é um momento oportuno, colocaremos. Vamos chegar ao ponto, se Deus quiser, de colocar uma rodada toda com árbitros locais. Quando? Não sei.
Uma rodada com todos árbitros locais neste Brasileirão?
Tomara. Estou torcendo para que isto aconteça em breve. É confiança nas pessoas. Se marcar um pênalti duvidoso, se o árbitro for local ou de fora, vai ter intensidade, pressão da mesma forma. Não podemos partir do princípio que o árbitro é bandido.
Entrevista
"Reclamação nenhuma será tolerada", diz presidente da Comissão de Arbitragem da CBF
Corrêa explica ainda motivo da punição na comemoração de gol de Vitinho, do Inter, e anuncia outra iniciativa polêmica: quer fazer uma rodada inteira com juiz do Estado de um dos times
Amanda Munhoz
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