O Brasil vive um paradoxo no surfe. Apesar das conquistas no cenário mundial, dentro de casa as principais entidades representativas do esporte estão rachadas. A consequência é o esvaziamento do Circuito Brasileiro de Surfe, principal competição amadora do país. Para dirigentes e profissionais do esporte, a falta de união pode barrar o desenvolvimento de futuros campeões.
Entenda os critérios para avaliar as manobras dos surfistas
O foco da crise é o baiano Adalvo Argolo, desde 2010 presidente da Confederação Brasileira de Surf (CBS), que organiza campeonatos de base. Além da suposta falta de transparência na administração e de incentivo a atletas amadores, a gestão de Argolo é criticada por ter tornado o Nordeste - base de apoio para sua eleição - em reduto de torneios. No ano passado, três etapas do circuito foram realizados na região, e a outra, no Norte, em praias com ondas de qualidade duvidosa.
A tempestade brasileira que chegou para ficar no Surfe
- Por falta de competência dos atuais gestores, o surfe amador brasileiro vem decaindo a cada ano, com o circuito totalmente sucateado. Não existe mais trabalho de base, que, em conjunto com outros fatores, ajudou a desenvolver a atual "brazilian storm" - critica Juca de Barros, antecessor de Argolo.
Federações do Sul e do Sudeste estão desistindo de participar do circuito. O resultado: competições de nível técnico baixo, pouco interesse de público e afastamento de patrocinadores de peso.
- São Paulo tem 10 títulos nacionais. Mas há três anos não envio equipes para o circuito brasileiro - afirma o presidente da federação paulista, Sílvio Silva, o Silvério. ZH entrou em contato com Argolo, que não respondeu a questionamentos até o fechamento desta edição.
Como se forma um campeão
Proximidade do mar
Existem surfistas profissionais que vivem em cidades afastadas da orla, mas, via de regra, os atletas de ponta estão fixados a curta distância da praia. Gabriel Medina, Mineirinho e Filipe Toledo nasceram - e desenvolveram suas habilidades - em cidades do litoral paulista.
Precocidade nas ondas
Como qualquer modalidade, quanto mais cedo o atleta der os primeiros passos no esporte, melhor. E não apenas a prática recreativa. No surfe, os potenciais campeões já começam a disputar competições amadoras ainda na infância.
Dinheiro na conta
Patrocinadores (ou "paitrocinadores") são fundamentais. Além do investimento em equipamentos como pranchas e roupas de borracha, é importante viajar para outros países e conhecer diferentes tipos de onda, além do intercâmbio com surfistas de outras nacionalidades. Luis Henrique Saboia Campos, treinador que gerenciou a carreira de Mineirinho, afirma que o investimento necessário para surfistas a partir de 12 anos é de R$ 50 mil por ano, no mínimo.
- São necessárias pelos menos duas a quatro viagens por ano - diz Pinga.
Treinamento
Antes de um surfista se aventurar em torneios no Havaí, o tour manager da Liga Mundial de Surfe na América do Sul, Klaus Kaiser, sugere viagens a destinos como a costa do Peru - considerada a melhor e a mais diversificada da América do Sul para o esporte - e praias de El Salvador, Costa Rica e México. Com formação em educação física, o ex-surfista Ricardo Toledo recomenda acompanhamento de profissionais da área. Já o presidente da Federação Paulista de Surfe, Sílvio Silva, diz que, além de treinos na água (pelo menos três por semana), é importante gravar o desempenho nas ondas para corrigir falhas e aprimorar a técnica.
Paradoxo
Surfe brasileiro: sucesso lá fora, crise doméstica
Apesar das conquistas no cenário mundial, dentro de casa as principais entidades representativas do esporte estão rachadas
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