Paulo César Fonseca do Nascimento, 37 anos, é Tinga. Não fosse um jogador famoso no país e no Exterior, com perfeitos serviços prestados a dupla Gre-Nal, ele seria mais um brasileiro da periferia, no seu caso a porto-alegrense Restinga, eclipsado pelo preconceito social.
O futebol salvou Tinga, mesma sorte não tiveram muitos amigos de infância abatidos pelas drogas e pelo tráfico. A bola ofereceu um novo horizonte, que ele aproveitou, seguiu e desfrutou - nunca só. Tirou a mãe, Nadir, 51 anos, das faxinas. Recuperou o pai, Valmor, 54 anos, que havia abandonado a família. Ofereceu nova vida aos três irmãos. Casou com Milene, 32 anos, e ganhou Davis, 12 anos, e Daniel, oito. Ao mesmo tempo, investiu num projeto social na periferia. Ele saiu de lá, venceu, voltou e quer que outros sigam o roteiro.
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Como a família reagiu quando soube que você tinha decidido deixar o futebol?
A família nunca questionou nada na minha carreira nestes 19 anos. Preparava as malas quando eu dizia "vamos sair." Todo mundo aceitava numa boa, sem queixas, sem problemas. Meus filhos deixavam as aulas e os colegas. Minha mulher largava os cursos. Ela sempre estudou muito. Sei que me falta estudo, mas ela me equilibrou neste sentido. Ela nunca reclamou por largar um projeto pela metade. Nunca. Vamos para Portugal? "Vamos". Rio? "Boa, legal". Alemanha? "Claro. Não tem problema". Voltar para Porto Alegre? "Claro".
E como os filhos agiam nestes momentos?
Quando resolvi deixar o Cruzeiro, em Belo Horizonte, reuni os dois guris e disse: "Ó, o pai vai parar, não vai mais jogar. Acabou. Ficarei mais perto de vocês agora". As crianças começaram a chorar, emocionados. Foi aquela choradeira geral, eu, todos. Eles gostavam muito de Belo Horizonte, mas querem mais ainda Porto Alegre.
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Luiz Zini Pires
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