Recente episódio do futebol no Rio de Janeiro coloca em evidência uma realidade que mostra o nosso atraso no futebol. A crítica de alguém é encarada como ofensa, passível de punição.
Vanderlei Luxemburgo, com toda as suas controvérsias, foi punido com suspensão por ter ousado criticar uma decisão da Federação Carioca de Futebol quanto a inscrições de jogadores da base. Luxemburgo foi contundente na sua entrevista, midiático, teatral, mas não passou disso. Sua punição é decorrente de uma visão tacanha, atrasada, autoritária, antidemocrática.
A democracia não é admissível pelos coronéis que comandam o futebol brasileiro. Quem diverge dos coronéis é punido por estar atentando contra a moral e a ética do esporte. Podemos criticar a presidente da República. Podemos criticar o Ministro da Fazenda. Podemos criticar o Supremo Tribunal Federal. Podemos criticar o comportamento do torcedor. Podemos criticar tudo, menos os coronéis que mandam no futebol.
A punição de Luxemburgo serve como cenário para uma discussão mais profunda. É preciso reorganizar o futebol brasileiro, limitar a duração de mandatos, proibir as reeleições indefinidamente destes dirigentes, estabelecer gestões transparentes das federações, acabar com uma visão de oligarquia dos coronéis que se acham donos do futebol e que se comportam como coronéis donos do futebol.
Eles estão errados. O futebol deve ser reconstruído com bases modernas, democráticas, que rompa o clientelismo que serve o atraso e as oligarquias que querem o futebol do século passado.
Os clubes devem entender que precisam se unir, criar fóruns de debates, ouvir especialistas, estudiosos, praticar a divergência como forma de encontrar soluções para os seus problemas. O problema de um clube é o problema do outro. Um clube não é inimigo de outro. Os clubes é que são importantes, com seus profissionais e suas torcidas e suas marcas. Talvez a criação de uma liga de clubes brasileira, com regras de gestão claras, modernas, transparentes, possa ser a solução.
A crítica do Luxemburgo pode servir para abrir este debate, um debate que sirva para lembramos do título de uma obra de Gabriel Garcia Márquez como fonte de inspiração:
"Ninguém escreve ao coronel".
O futebol é dos brasileiros, não dos coronéis.