Viviane Jungblut nada “em dobro” para ir a Tóquio

Quase sempre um obstáculo temido por atletas, o tempo desta vez será um aliado de Viviane Jungblut. Apontada como um dos principais nomes da nova geração da natação brasileira, a gaúcha tem boas chances de conquistar a vaga olímpica um ano antes dos Jogos de Tóquio. Mas se tudo der errado para ela nos 10km da maratona aquática no Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos de Gwangju, competição que ocorre de 12 a 28 de julho de 2019 na Coreia do Sul e que classificará todas as atletas da distância para a Olimpíada, Viviane terá mais uma chance de reservar seu lugar no evento do Japão – só que nas piscinas.

Sim, a versátil nadadora de 21 anos do Grêmio Náutico União ataca em duas frentes. A prioridade do momento são as competições em águas abertas, provas em que vem colhendo bons resultados desde o ano passado, quando conquistou três medalhas (um prata e dois bronzes) na Copa do Mundo e encerrou a temporada em quarto lugar do circuito da Federação Internacional de Natação (Fina) mesmo com a participação em apenas cinco das sete etapas.

Também em 2017, na seletiva para o Mundial de Budapeste, Viviane conseguiu uma das duas vagas na equipe brasileira ao eliminar Poliana Okimoto, bronze nos Jogos do Rio 2016. Seu desempenho na Hungria, em julho, ficou abaixo das expectativas da própria nadadora e do técnico dela, Kiko Klaser. A projeção era obter uma classificação entre as 10 primeiras colocadas, e a gaúcha acabou empatada em 13º com uma nadadora chinesa. Mas a primeira experiência em uma competição com a elite da maratona aquática e que reproduz o nível de dificuldade a ser encontrado nas geladas águas japonesas em 2020 deixou ensinamentos.

– Errei a estratégia, comecei a prova num ritmo muito forte. No final, não consegui acompanhar o pelotão da frente – conta Vivi, como é chamada no clube e na seleção.

– Ela ainda precisa melhorar a troca de velocidade, o ataque final da prova. A Vivi tem nadado muito bem por 9,9 mil metros, mas falta chegar mais inteira nos últimos cem metros – explica Kiko.

Com base nesse diagnóstico, o técnico tratou de aumentar a carga dos treinos. Em vez dos costumeiros 85 quilômetros semanais de 2017, neste ano Viviane passou a nadar de 95 a 105 quilômetros. O senso de disciplina da estudante de Engenharia de Alimentos da UFRGS, conta o treinador, respaldou a mudança:

– Se eu passar um treino de 10 quilômetros, ela vai nadar sozinha, sem cobrança. Tem muito atleta que precisa que o técnico fique na borda de piscina durante toda a atividade.

Para buscar a vaga em Tóquio, Vivi precisará mesmo de dedicação aos treinos. Isso porque um país só pode classificar dois nadadores nos 10km da maratona aquática se ambos chegarem entre os 10 primeiros colocados em Gwangju. E poucos acreditam hoje que a baiana Ana Marcela Cunha, dona de três ouros nos 25km e de nove medalhas no total em Mundiais – sendo uma prata e dois bronzes nos 10km, única prova olímpica das maratonas aquáticas –, deixará escapar uma das vagas.

Eleita melhor atleta do mundo na modalidade em 2017, Ana Marcela já figurou no top 10 logo na primeira etapa de 2018 da Copa do Mundo. Enquanto a baiana fechou em quarto lugar a prova disputada em Doha, no Catar, no último dia 17, a gaúcha terminou apenas em 20º – a nadadora chegou a acompanhar os líderes, mas teve o desempenho prejudicado pelos óculos arrebentados em um choque involuntário com uma adversária.

Em uma prova caracterizada pelo intenso contato físico entre os competidores, incidentes como esse são comuns. Somados a outros fatores imponderáveis como correntezas e temperaturas extremas da água – gelada ou quente demais –, os resultados nas águas abertas são mais imprevisíveis do que as disputas nas piscinas. Por isso, se tudo der errado para Vivi no Mundial da Coreia do Sul em 2019, a gaúcha tem o seu plano B olímpico: as provas de longa distância da natação, como os tradicionais 800m e agora os 1.500m, que passará a integrar o programa para mulheres nos Jogos a partir de 2020.

No último Troféu Maria Lenk, em maio do ano passado, a atleta do União faturou o ouro nas duas distâncias. Na Universíade de Taipei, em agosto, estabeleceu o recorde brasileiro dos 1.500m, com o tempo de 16min22s48. Com as suas melhores marcas, teria sido finalista no Mundial de Budapeste tanto nos 800m quanto nos 1.500m.

A seletiva olímpica da natação será travada no Maria Lenk de 2020, portanto a quase dois meses dos Jogos. Os dois melhores colocados na final de cada prova garantirão a vaga. Portanto, seja na baía do Odaiba Marine Park, cenário da maratona aquática em Tóquio, seja no Centro Aquático Olímpico, sede das provas na piscina de 50 metros, é lá onde Vivi quer estar.

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