Saymon Hoffmann, entre o disco e o peso

O Brasil, todos sabem, nunca foi uma potência do atletismo. Mas já produziu seus heróis olímpicos. Adhemar Ferreira da Silva no salto triplo, Joaquim Cruz nos 800m, Maurren Maggi no salto em distância e Thiago Braz da Silva no salto com vara, todos conquistaram medalhas de ouro no mais nobre esporte do programa dos Jogos.

Pois um porto-alegrense de apenas 18 anos também ambiciona subir no topo do pódio na modalidade. Só falta agora escolher a prova. Do alto de seus 2m2cm, Saymon Hoffmann desponta no lançamento de disco e no arremesso de peso, especialidades sem tradição brasileira no cenário internacional.

Atleta com porte de ala/pivô de basquete, o rapaz não enveredou para outras quadras por pouco. Há sete anos, a mãe de Saymon, Michele, tentou inscrevê-lo na escolinha de vôlei da Sogipa por meio de um programa social da prefeitura de Porto Alegre. Mas só havia oito vagas no clube, e o menino chegou atrasado. Surgiu uma chance, então, na equipe mirim de atletismo.

Com quase 1m90cm aos 11 anos, Saymon foi encaminhado para o técnico José Haroldo Loureiro Gomes, o Arataca, para experimentar os saltos, disputas em geral dominadas por grandalhões. Não decolou. Parou nas mãos de outro treinador, Gerimar Fernandes, um amazonense especializado em lançamentos e arremessos. Tentou primeiro o dardo, mas também não deu certo. Ao arriscar o disco, chamou a atenção de Gerimar. Depois, no peso, mostrou potencial em outra prova que combina força e coordenação motora.

Os resultados mostraram que o processo de tentativa e erro valeu a pena. Em 2016, na Argentina, foi campeão sul-americano sub-18 no peso e no disco, com direito a recorde do campeonato nesta última prova. No mesmo ano, faturou o ouro no peso no Mundial escolar da Turquia. Em 2017, já no sub-20, outra vez ficou à frente nas duas provas no Sul-Americano de Georgetown, na Guiana.

Em sua última temporada na categoria, já faz planos para brilhar no Mundial de Tampere, na Finlândia, em julho, um país que jamais pensou em conhecer:

– Desde que entrei no atletismo, sonho em participar de uma Olimpíada para competir com os melhores do mundo, e também para viajar bastante. Gosto de conhecer outras culturas. Sempre que viajo para competições aproveito as folgas para fazer passeios.

Caso confirme as vagas para o Mundial, Saymon não pretende ir à Escandinávia apenas a passeio:

– Estou sempre de olho no ranking mundial, no sul-americano, no brasileiro. Sempre vou atrás dessas informações para saber quem está chegando perto, quem eu possa buscar. Quero estar sempre por cima, sempre no topo. Já penso em ir para os Jogos de Tóquio. Se tudo der certo, quero chegar à final de cara. Já quero começar grande.

A manifestação poderia expor traços de soberba juvenil. Uma rápida conversa com o sogipano revela uma mentalidade de atleta adulto. Desde os 13 anos, quando conquistou seu primeiro título brasileiro, Saymon passou a receber o Bolsa-Atleta. Boa parte do dinheiro, quase R$ 1,5 mil líquidos, é reservada para pagar contas da família, que mora na Lomba do Pinheiro.

Para continuar abreviando etapas no atletismo e conquistar uma vaga no time de 2020, Saymon terá uma encruzilhada em breve: a especialidade que terá de se dedicar para competir em alto nível com os principais atletas profissionais do planeta. Gerimar, o técnico do garoto, aposta no lançamento de disco. Já o guri, no momento, está inclinado pelo arremesso de peso.

Saymon não aparenta ansiedade por enquanto:

– Como costuma dizer meu treinador, não é o atleta que escolhe a prova, e sim a prova que escolhe o atleta. O disco e o peso estão brigando entre si para ver com qual prova vou ficar.

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