
Considerado imprevisível por professores e alunos, o Enem, que será aplicado nos dias 8 e 9 de novembro, apresenta uma garantia: muita contextualização nas questões e muita transdisciplinaridade. Ou seja, o candidato pode encontrar numa pergunta de geografia um pouco de história e até mesmo de sociologia. Assim, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep) elabora o Enem, desconstruindo o conceito formal de disciplinas dos tempos de colégios e as dividindo em Ciências da Natureza, Ciências Humanas, Códigos e Linguagens, Ciências Exatas e Redação.
Dando continuidade à série de reportagens sobre as provas do Enem, o ZH Vestibular apresenta hoje o teste de Ciências Humanas, que aborda geografia, história, filosofia e sociologia em 45 questões. Será a primeira metade do exame aplicado em 8 de novembro. Nesta prova, as perguntas têm caráter de conhecimentos gerais. Abordam movimentos históricos no país e no mundo, mas também fatos ocorridos no ano corrente.
- É quase uma radiografia das questões problemáticas no Brasil - classifica a professora de geografia do Grupo Unificado Vera Brandt.
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Apesar de o Enem exigir atualização do candidato, professores ressaltam que a "avalanche de notícias" pode ser prejudicial na preparação para o exame.
- Às vezes, o aluno não tem o preparo para discernir o que é importante e o que não é. Ele é bombardeado por muitas informações e acaba se confundindo. A gente costuma orientá-lo "dá uma olhada neste jornal, nesta editoria, neste caderno", senão ele quer ler tudo e acaba não conseguindo extrair dali o que a prova pode perguntar - explica Saul Chervenski, que leciona geografia no Unificado.
Em sua afirmação, Rosa lembra da interdisciplinaridade da prova. Quem for fazer o exame pode esperar por questões sobre a interferência humana em ecossistemas, como o desmatamento na Floresta Amazônica, ou dinâmicas populacionais, tal qual a migração de haitianos e africanos em cidades do interior gaúcho - tema atual e lembrado com frequência por professores.
- Quando cito a geografia na Amazônia eu já trato a questão dos solos, da interferência do homem na mineração, do uso de mercúrio, do fenômeno El Niño. O aluno tem que se acostumar a lincar questões e fazer um exercício crítico sobre o tema - aconselha a professora de geografia do Grupo Unificado Vera Brandt.
Além desses temas, há boas possibilidades de os candidatos encontrarem questões relacionadas às taxas de mortalidade e natalidade e a problemas ambientais como efeito estufa e aquecimento global.
> História
Se ainda não começou a estudar o passado do Brasil, corra para a biblioteca mais próxima enquanto há tempo. Como bem resumiu o professor do Universitário Davi Ruschel, "o Enem quer um aluno que conheça a história do seu país".
Analisando as três últimas provas do exame, o site Universia constatou que questões sobre a história brasileira apareceram pelo menos 12 vezes. No levantamento, também concluiu que nove questões tratavam de movimentos sociais - a maioria sobre mobilizações no Brasil.
- O Enem tem cobrado muitas questões de direitos das minorias, direitos dos homossexuais e das mulheres. Os alunos têm de conhecer as constituições do Brasil. Direitos trabalhistas, de votos, dos trabalhadores, períodos de democracia e autoritarismo militar - lembra Ruschel.
Retomar períodos da história brasileira é uma boa forma de se problematizar o país. Por isso professores aconselham estudantes a refletir sobre temas como o cinquentenário do golpe militar, que pode aparecer no Enem 2014.
- O Enem está exigindo que o estudante saiba dialogar as partes, que seja interdisciplinar. O próprio professor precisa se aprofundar em outras áreas. O professor de história, por exemplo, precisa conhecer filosofia e sociologia para conseguir entrar em certas áreas - aponta Felipe Pimentel, professor de história do Grupo Unificado.
> Filosofia e Sociologia
Essas não são disciplinas semanais na grande maioria dos cursinhos, mas representam parcela significativa na prova e podem determinar o ingresso em uma universidade pública. Debates éticos sobre o papel da televisão no Brasil, religião e trabalho norteiam as questões de sociologia. Na filosofia, o buraco é mais embaixo.
- Nas últimas edições é possível citar referências a grandes filósofos, como Kant, Maquiavel e Montesquieu. Talvez os autores sejam alterados, mas essa tem sido a tônica. A prova de filosofia deixou de ser só interpretação de texto, exige conhecimento filosófico - afirma o professor do Unificado Thiago Cruz, que também aconselha os candidatos a estudarem Rousseau, Hobbes e Locke.
- Selecione as últimas três edições das provas, pegue os autores mais cobrados e leia seus pensamentos, estude sua história em livros introdutórios. Os candidatos têm de ter em mente que o Enem quer saber o que os autores representaram para a sociedade ocidental - completa Thiago.