Leia o relato de estudante transexual da UFRGS que não quis ser identificado:
Sou um homem trans. Entrei na UFRGS em 2007. Comecei a transição durante o curso de graduação. Quando isso ocorreu, não existia ainda nenhuma política regulamentada sobre isso na universidade. Todos os meios de identificação da universidade obrigatoriamente me exibiam como um nome feminino: na chamada, na sala de aula virtual (e plataformas EAD em geral) etc. Precisava pedir para os professores, a cada início de semestre, para que não utilizassem para me chamar aquele nome escrito ali. Muitos deles foram compreensivos em relação a isso, mas acatar ou não esse pedido era uma decisão pessoal. Caso o professor se recusasse, não havia nada que pudesse ser feito institucionalmente.
Estudo aponta que 87% dos alunos da UFRGS têm algum grau de preconceito
Eu desenvolvi diversos recursos para lidar com a discriminação e, por isso, consegui evitar algumas situações. Mas outras pessoas trans com quem tenho contato sofriam muito, pois professores se recusavam a chamá-las pelos seus nomes sociais e, às vezes, as humilhavam em público dizendo que para serem reconhecidos daquela forma deveriam "tomar hormônios e fazer musculação".
Muitos professores desconhecem totalmente que existem pessoas trans e não sabem como lidar com elas. Diversas vezes, termos como "veado" são utilizados como xingamento pelos alunos e isso é visto como natural, como brincadeira. Presenciei deboches em relação à homossexualidade, como se gays fossem inferiores, dignos de escárnio e riso. Colegas já escutaram professores falando que gays eram "criaturas invertebradas". Já senti que alguns colegas não queriam fazer trabalho em grupo comigo por questões de preconceito.
Nunca relatei nada porque alguns preconceitos são tão naturalizados que nem são percebidos como preconceito. Como a questão de usar veado como xingamento e a requisição do nome social.
A UFRGS já fez a regulamentação do nome social como uma ação para resolver esse preconceito. Mas, ainda assim, na própria implementação, teve relatos de recusa a aceitar o regulamento.
Acho que uma formação em direitos humanos obrigatória é, sim, necessária, pois o contato com algumas questões fica a critério de alguns currículos. Então, nem todo mundo terá acesso a essas questões.