No segundo trimestre, a leve alta de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB) nacional em relação aos três primeiros meses deste ano foi puxada pelo avanço de 0,6% no setor de serviços. No sentido contrário, a indústria amargou nova queda, de 0,5%, enquanto a agropecuária colheu variação nula. Os dados integram pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (1º).
A alta em serviços está relacionada a variações positivas do comércio, de 1,9%, e do consumo das famílias, de 1,4% – a primeira depois de nove trimestres. O crescimento nas compras, apontam analistas, tem ligação com a liberação das contas inativas do FGTS e a queda da inflação, que resultou em cortes no juro básico pelo Banco Central.
– A liberação dos saques deu impulso ao consumo. Está sustentada por indicadores como a melhora no crédito para pessoas físicas e a inflação mais baixa – comenta o pesquisador Julio Mereb, do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas.
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Para o economista e professor da PUCRS Adalmir Marquetti, a alta no consumo sinaliza que o pior estágio da crise ficou para trás. Segundo o especialista, a leve baixa na taxa de desemprego, que recuou de 13% para 12,8%, é outro aspecto que pode auxiliar na retomada do poder de compra.
– As pessoas conseguiram se organizar depois de pagarem dívidas. Apesar disso, a situação do consumo ainda é delicada – pondera Marquetti.
Fábricas ainda patinam
No sentido inverso dos serviços, a queda de 0,5% na indústria foi puxada pela retração de 2% na construção. Em seguida, aparece o segmento de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana, com baixa de 1,3%.
– A queda na indústria ocorreu muito por conta da construção civil. Há paralisação de investimentos públicos em grandes obras, depois de escândalos de corrupção, e restrição de crédito para novos projetos – avalia o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin.
Outro dado que preocupa o setor é a redução na taxa de investimentos para 15,5% do PIB entre abril e junho. Em igual período do ano passado, o índice estava em 16,7%.
– Foi um trimestre muito fraco. Traz dificuldades para que a economia seja reativada. Enquanto houver grande capacidade ociosa nas empresas, não dá para esperar reação nos investimentos – sublinha Cagnin.
Campo permanece estável
Ante o período de janeiro a março, a agropecuária teve variação nula no segundo trimestre. Ou seja, não cresceu nem caiu. O que analistas destacam é que o setor subiu 14,9% em relação ao intervalo de abril a junho do ano passado. O avanço, menciona Marquetti, é mais um dos resquícios da supersafra, que puxou a alta de 1% do PIB brasileiro no primeiro trimestre.
– A agropecuária havia crescido muito. Se fizermos essa outra comparação (com o mesmo período do ano passado), veremos que o avanço segue muito grande – destaca.