Sem a presença dos oposicionistas, a CPI da Petrobras do Senado vai ouvir na terça-feira o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, que ficou quase dois meses preso durante as investigações da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal.
Tido nos bastidores do Congresso como o "homem bomba" que chegou à Petrobras com o apoio do PP e se manteve com o respaldo de parlamentares do PMDB e do PT, Costa tem dado sinais de que não vai se furtar a responder a todos os questionamentos.
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No final da tarde desta segunda-feira, a defesa do ex-diretor da Petrobras confirmou que ele vai comparecer à CPI.
- Ele vai responder às perguntas que forem feitas. Não tem nada de extraordinário. Ele vai dizer o que sabe - disse o advogado de Costa, Nélio Machado.
Até o início da noite, o defensor tampouco havia entrado com um pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir o direito do cliente, se necessário, permanecer calado diante de quaisquer perguntas. Investigados em inquéritos e réus em ações penais, como é o caso do ex-diretor, têm esse direito assegurado pela Constituição.
Costa ficou 59 dias preso sob suspeita de destruir documentos que poderiam esclarecer sua participação no suposto esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, desbaratado pela operação da PF. Há três semanas, numa controvertida decisão, o ministro do Supremo Teori Zavascki concedeu uma liminar liberando apenas o ex-diretor da estatal da cadeia. Outros 11 presos, inclusive o doleiro Alberto Youssef, apontado como suposto repassador de recursos a parlamentares, permanecem na cadeia.
O ex-diretor também foi escolhido para ser o representante da estatal no Conselho de Proprietários na refinaria de Pasadena, comitê cuja existência era desconhecida da atual presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster.
Costa também é réu na Justiça sob a acusação de desvio de recursos nas obras de construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco.
Mesmo com a possibilidade de o ex-diretor falar, a oposição não vai comparecer para participar do depoimento. Dos 13 integrantes titulares da comissão, 10 são da base aliada. Desde o início dos trabalhos, a oposição tem boicotado os trabalhos da CPI exclusiva do Senado sob a alegação de total controle dos aliados. Eles apostam as fichas na CPI mista da Petrobras, que tem a participação de deputados federais da base, menos alinhados com o governo Dilma, para avançar nas investigações.
- Não vamos à CPI para questioná-lo. Temos que aguardar a vinda dele para a CPI mista. Se formos lá faremos o jogo do esvaziamento que o governo quer - afirmou o vice-líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR).
- Ninguém vai. Esta CPI do Senado é de cartas marcadas, os depoimentos são combinados e as perguntas e respostas acertadas previamente - criticou o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN).
Ambos disseram que vão aguardar o depoimento de Paulo Roberto Costa na CPI mista, sem data ainda definida, para questioná-lo.
Para mostrar que não fará jogo de cena com Costa, a assessoria técnica da comissão preparou 150 perguntas para serem feitas pelo relator, José Pimentel (PT-CE), ao ex-diretor da estatal. A avaliação dos técnicos é de que o "calcanhar de Aquiles" de Costa seria o patrimônio que amealhou sozinho, ou por intermédio de parentes, no período em que esteve na Petrobras. Ele não teria como comprovar que, somente com o salário e outras vantagens da estatal, teria condições de ter um patrimônio familiar estimado em R$ 10 milhões.
O presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB), afirmou que Costa é uma "peça importante" na investigação, uma vez que na sua diretoria estavam contratos importantes da Petrobras. Vital rebateu as críticas da oposição de que a CPI exclusiva tem por objetivo blindar o governo, ao contrário da comissão mista, também presidida por ele.
-Ela (a CPI do Senado) é igual à outra, a condução é a mesma e feita de forma respeitosa para poder ter o melhor resultado. Se a oposição não quer participar, ela vai ter explicações para dar à sociedade - completou.