O pacote de concessões lançado na semana passada pela presidente Dilma Rousseff só deslancha se o governo conseguir amarrar bem questões regulatórias e promover uma integração dos modais de transporte. O alerta é do economista Cláudio Frischtak, da Inter.B Consultoria. Segundo ele, é preciso definir com clareza quem vai "pagar a conta e onde estarão os incentivos".
O detalhamento do pacote é considerado pelo especialista em infraestrutura peça-chave nesse novo modelo de concessão para os setores ferroviário e rodoviário. Para Frischtak, o pacote torna a sociedade direta ou indiretamente sócia do operador.
- A questão regulatória e contratual é absolutamente fundamental. Se isso não estiver resolvido, o pacote não vai para a frente, não terá o efeito desejado- aponta o ecomomista.
Outro que também se preocupa com as questões regulatórias do pacote é Steven Bipes, assessor sênior do grupo Albright Stonebridge, empresa que apoia empresas privadas a desenvolver estratégias para entrar e se estabelecer em diferentes países:
- O diabo está nos detalhes. O sucesso das medidas vai depender da implementação - disse Bipes. O especialista, entretanto, considera que o governo escolheu o setor certo para incentivar: o de logística, que terá papel importante nos megaeventos programados para o Brasil (Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016).
A capacidade das ferrovias e portos já existentes de absorver o aumento no transporte de carga a ser gerado pelo pacote é outro ponto levantado por Frischtak: "O gargalo está aí", aponta. Segundo ele, muitos trechos a serem construídos de ferrovias vão desaguar em portos ou ferrovias sem capacidade. Por isso, a prioridade é buscar uma integração no plano logístico, que evite uma enxurrada de ações judiciais e, com isso, emperre ainda mais os investimentos em infraestrutura no país. Para o economista, o pacote para área de portos, que vem sendo costurado pelo governo, precisa mitigar esse risco.
- O problema é que a questão portuária, comparada com a ferroviária e de rodovias, é simples - lembrou.
Especialista em infraestrutura, Frischtak defende a privatização das Companhias Docas e a desregulamentação do setor.