
Chegar ao ápice do prazer no sexo pode acabar desencadeando reações inesperadas em algumas pessoas. Depois de atingir o orgasmo, há quem seja surpreendido por uma gargalhada descontrolada, um espirro e até mesmo por uma crise de choro, sem motivo aparente.
— Os seres humanos são diversos e, portanto, reagem de formas diferentes a situações semelhantes. As reações peculiares ao orgasmo são um tema sobre o qual as pessoas pouco falam, mas frequentemente se perguntam "será que é só comigo que acontece isso?". Não é — afirma a psicóloga e sexóloga Maria Flávia Schroeder.
O assunto veio à tona especialmente nesta semana, na voz da atriz Carla Diaz. Durante um episódio do seu podcast, DiazOn, ela revelou à sexóloga Laura Müller e ao público que já chorou ao “chegar lá” e que isso a deixou preocupada.
— Já aconteceu comigo mais de uma vez, e aí eu lembro que a primeira vez que aconteceu eu me assustei na hora. Eu (questionei) o porquê disso e fui pesquisar — relatou a artista de 33 anos.
As reações “peculiares” ao prazer não tem nada de anormal e tendem a estar ligadas ao próprio funcionamento do organismo humano. Conforme explica a ginecologista e sexóloga Fernanda Grossi, quando o orgasmo ocorre, há a liberação de endorfinas e neurotransmissores como a dopamina, a adrenalina e a ocitocina, substâncias que atuam sobre o sistema nervoso e determinam sensações de prazer, euforia, relaxamento e bem-estar. É como uma grande descarga de emoções.
— Reações intensas como choro, risadas, espirros e outras podem acontecer como resultado da liberação desses neurotransmissores. No caso do choro, também pode estar relacionado a sentimentos de culpa e não necessariamente como consequência do orgasmo em si — explica Fernanda.
O orgasmo também pode fazer com que algumas reações e emoções que estavam “contidas no interior” da pessoa venham à tona de forma descontrolada, explica a sexóloga Maria Flávia Schroeder. Mas esta não é uma regra e, portanto, nem todo choro é necessariamente causado por alguma tristeza ou alegria interior.
— As questões emocionais podem ter peso em provocar ou não um choro, mas o que faz com que a pessoa relaxe a ponto de libertar o que estava contido é a liberação de substâncias no nosso cérebro — detalha a psicóloga e sexóloga.
Em alguns casos, também é possível trabalhar com a hipótese de que a reação seja um reflexo tardio de situações marcantes ou traumáticas vividas no passado:
— Muitas vezes a pessoa vem ao consultório por queixas relacionadas ao sexo, e aí na hora em que começamos a esmiuçar, constatamos que houve eventos marcantes ou traumáticos lá no início da vida sexual, quando ela tinha pouca informação e era sexualmente inexperiente . E muitas vezes esses eventos estão ligados a essas reações na sua vida adulta — afirma.
No oposto das lágrimas está o riso solto, que também é relatado pelos pacientes às profissionais entrevistadas por Donna nesta reportagem. Segundo a psicóloga, a “risadeira” depois de chegar ao ápice pode estar ligada a uma “super excitação”, não no sentido propriamente sexual, mas de alegria.
— Essa alegria, às vezes, faz com que apareça uma crise de riso. Por conta dessa mesma excitação, tem muita gente que sente vontade de comer doces ou de fumar cigarro. A culpada é a endorfina, e cada um reage de uma forma de acordo com o que está rolando na sua vida — explica Maria Flávia.
Preguiça e hiperatividade
Chegar lá e, quase imediatamente, virar para o lado e adormecer também é uma reação inusitada ao orgasmo mencionada por pacientes. Ela tem tudo a ver com a descarga da tensão sexual que é o orgasmo, a qual proporciona um relaxamento e uma sensação de bem-estar que favorecem a soneca.
— Tem pessoas que sentem muito sono depois do sexo, um sono difícil de controlar, especialmente se o indivíduo já vinha de uma rotina de cansaço. Vem a liberação de substâncias, e aí vem o relaxamento e o sono. Só que para alguns casais, essa história de “gozou, virou para o lado e dormiu” acaba gerando um problemão na relação — afirma a psicóloga.
Também há quem relate que um bom orgasmo faz a pessoa se sentir superpoderosa, o que desperta uma vontade imediata de viver, sair, viajar, planejar, fazer coisas.
— A hiperatividade que algumas pessoas podem referir está relacionada à liberação de endorfinas — aponta a ginecologista Fernanda Grossi.
Dor de cabeça
Naqueles segundos de duração de um orgasmo, a frequência cardíaca aumenta, bem como a pressão arterial, a hiperventilação e a tensão dos músculos. Esse combo, em algumas pessoas, pode provocar dores de cabeça.
— Algumas pessoas referem dor de cabeça, a qual pode estar relacionada ao aumento do fluxo sanguíneo e às contrações musculares que acontecem no corpo todo. Se a dor é constante e perdura por muito tempo, deve ser avaliada por um neurologista e ser adequadamente tratada — afirma a ginecologista.
Espirro
Você talvez se recorde de Justin Timberlake no filme Amizade Colorida (2011), soltando um estrondoso "atchim!" logo depois de chegar ao auge do prazer, mas essa reação não ocorre só na ficção. O espirro é uma forma pela qual a mucosa nasal expele corpos estranhos, e é desencadeado de forma involuntária por mecanismos relacionados ao sistema nervoso parassimpático. Dessa forma, como o orgasmo é capaz de ativar o nervo parassimpático, o prazer pode acabar desencadeando um espirro.
Além disso, Fernanda Grossi salienta que a vasodilatação que ocorre durante o sexo também pode contribuir para a congestão nasal.
As reações são motivo de preocupação?
No sexo, desde que haja consentimento, não existem caixinhas do que é “normal” ou “anormal”. Portanto, a dica da psicóloga Maria Flávia Schroeder caso role alguma reação inusitada depois do orgasmo é tentar lidar com naturalidade, rir de si mesmo e não se sentir constrangido.
Buscar a ajuda de um profissional só será necessário se as reações peculiares estejam acontecendo com frequência exagerada, a ponto de atrapalhar a vida sexual da pessoa.