Quando menina, eu gostava de ler os "correios sentimentais" que eram publicados nas revistas, e ficava imaginando: será que aquela moça, que se chama "rosa encantada" encontrará o seu par perfeito? E o pobre "cavalheiro solitário", viúvo há muitos anos, vai enamorar-se novamente? Como toda romântica, achava que estas cartinhas podiam, sim, unir as pessoas, e que as "metades da laranja" existem de verdade, só que às vezes precisam de uma mãozinha do destino para se encontrarem.
Havia anúncios muito especiais, nos quais dava para sentir que o remetente tinha se esmerado na tentativa de encontrar as palavras certas. "Procuro a outra metade da minha alma", dizia uma delas. Quer coisa mais poética?
Tinha, também, aquelas cartinhas que iam direto ao ponto: "procuro homem para futuro compromisso, idade entre 30 a 50 anos, sem vícios e com boa situação financeira. Favor mandar foto na primeira carta". Assim, simples e prático. A mulher não devia ser de muita brincadeira. Se não tinha as características exigidas, melhor nem perder tempo escrevendo.
Outros anúncios eram ? aos meus olhos e imaginação de menina - completamente enigmáticos: "procuro alguém para amizade sincera ou algo mais". Se não era para namorar ou casar, era para o quê, então? Acho que hoje sei a resposta.
Eu gastava um tempão tentando imaginar como seriam, fisicamente, as pessoas, autoras dos anúncios.
"Moreno, alto, bonito, porte atlético, 30 anos...". Nossa, devia ser um gato!
"Loura, olhos azuis, corpo escultural, muito simpática e inteligente", dizia uma moça. Que casal incrível daria essa dupla, coisa de colocar muito casalzinho global no chinelo, pensava eu.
Muitas vezes senti vontade de escrever uma cartinha e enviar para um desses correios sentimentais, que eram moda nas revistas, jornais e até nos programas de rádio. Não que eu precisasse de um namorado ? até porque naquela época eu tinha uns 10 ou 11 anos, e nem pensava (seriamente) nisso ainda ? mas porque eu sempre fui muito curiosa, e queria saber se alguém me responderia.
Uma das minhas grandes alegrias sempre foi receber cartas. Sim, naquele tempo ainda se recebia cartas em casa, entregues pelos carteiros. Eu costumava me corresponder com as amigas de escola, durante viagens nas férias. Mas carta de amor devia ser muito mais legal, ainda que fosse a resposta a um anúncio publicado em uma revista...
Mas fiquei só na intenção, nunca enviei.
Lembrei disso hoje porque encontrei na internet uma espécie de correio sentimental eletrônico. Um anúncio dizia: "baiana, 56 anos, divorciada, íntegra, amiga e companheira, que gosta da natureza, quer conhecer senhor livre e atencioso, entre 65 a 70 anos, para compromisso sério. Dispensa aventureiros e dá preferência para orientais".
Isso significa que as pessoas continuam procurando suas almas gêmeas. Só o que mudou com o passar do tempo foi a forma de fazer contato.