? Você precisa ver como ele tá lindo. Nossa, engordou quase um quilo neste último mês. E já está começando a resmungar umas palavrinhas. Meu filho é muito inteligente, além de lindo, claro!
? A minha também está uma graça. Parece uma mocinha, adora colocar vestido cor de rosa. Vê se pode, já escolhe roupa com essa idade...
Papo de duas mães corujas? Que nada! São dois homens, que aproveitam os minutos de folga na cafeteria da redação pra falar sobre seus filhotes. E eu ali, na mesa ao lado, ouvindo a conversa e pensando: realmente, não se fazem mais homens como antigamente. Ainda bem.
Dias desses, achei uma revista da década de 1960, e uma propaganda chamou minha atenção. Era anúncio de móveis para a sala. Na foto, uma família inteira, na hora do "descanso". O pai lia o jornal, na poltrona, alheio a todo o resto. A mãe tinha um bebê no colo e mais duas crianças à sua volta, para as quais lia um livro de estórias.
Minha primeira reação foi pensar: por que este homem não brinca com o bebê, para a mãe poder dar atenção aos dois mais velhos?
Na mesma hora, porém, me dei conta que, naquela época, os pais ? com raras exceções, não podemos esquecê-las ? realmente não se preocupavam com essa coisa de divisão de tarefas domésticas. Brincar com os filhos? Talvez, cinco ou dez minutos por dia, nada que comprometesse o seu merecido descanso depois de um dia de trabalho.
Função de pai era trazer dinheiro para dentro de casa. O resto era com a mãe, que, também tirando as exceções, naquela época ainda não trabalhava fora.
Podia até ser uma divisão justa das tarefas, mas eu sempre penso que estes pais que não se envolvem diretamente na criação dos filhos, seja por falta de hábito ou de vontade, estão perdendo uma chance de ouro de serem mais felizes e realizados.
Nada na vida dá mais prazer do que acompanhar o crescimento de um filho, desde o nascimento até a vida adulta. Pegar seu bebê nos braços, enchê-lo de beijos e carinhos, fazê-lo rir e rir, também, das suas gracinhas, acalentá-lo quando ele chora, segurar na mãozinha dele para dar equilíbrio aos primeiros passinhos, alimentá-lo brincando de aviãozinho... São lembranças que, pelo resto da vida, aquecem qualquer coração.
Por tudo isso, fico muito feliz quando vejo meus amigos e colegas de trabalho falando de suas crianças, cheios de orgulho de cada pequena conquista.
? Ele já segura sozinho a mamadeira ? me contou um amigo, falando sobre seu bebê de poucos meses. Perto de nós, algumas pessoas acharam graça da felicidade do papai com algo tão bobo. Aliás, bobo não, singelo. Mas eu entendi a sua faceirice, porque também fiquei orgulhosa quando meus filhos conseguiram tal façanha.
Outro amigo, que desde que a filha de dois anos nasceu mudou o escritório para casa, em breve terá que separar-se da menina. Vai trabalhar fora, e já está com o coração apertado de saudade antecipada.
? Será que ela se acostuma com a minha ausência? perguntou. Ela, acredito que sim. Ele? Tenho minhas dúvidas. Nos primeiros tempos, pelo menos, não vai ser fácil.