Ando pensando em Florbela Espanca e Fernando Pessoa. Em Antônio Cícero, Neruda, Torquato Neto. Ando pensando em poesia. Por tudo. Por nada. Lá atrás, Gil escreveu Lunik 9, profética canção que mirava um mundo que se despedia de si mesmo. Será irreversível a derrisão planetária? Não estou falando de Trumps ou Temers. Estou pensando nos poetas. Serão eles seres em extinção?
Vãs intolerâncias ajudam a explicar o "zeitgeist" ("espírito do tempo", em alemão) desses dias, nossas descrenças rasas, os jogos vorazes, o grau de cinismo e agressividade que permeia o tabuleiro da sociedade brasileira.
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Lembro do personagem de Estação Atocha, do Ben Lerner: um jovem poeta que, estudando Lorca e Tolstói, perambula por uma Madri frenética buscando sua identidade criativa. Ao saber que a prova de Linguagem Arquitetônica não será mais aplicada para ingresso na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, sob o argumento de que "é necessário democratizar o acesso à faculdade", que "as normas cultas da escrita precisam acabar, pois são formas de discriminação e controle social", misturei o personagem aos postulantes às nossas vagas universitárias. Um arquiteto não precisará mais saber se expressar? Waly Salomão alertava premonitório: "Assaltaram a gramática, assassinaram a lógica!".
O "tempo da delicadeza", parece, esqueceu Porto Alegre. Se você duvida, passe pelo viaduto Otávio Rocha às sete da noite. "Pânico, paralisação, desastres, desculpas", como diz Maurício Pereira. Gente atirada pelo chão, zumbis ocupando o centro da cidade. Meu coração dispara baunilha e compaixão. "Na passagem de Elvis para os Beatles", como quer Leminski, perdemos definitivamente a inocência?
Quando lembro que catedrais europeias levaram séculos para serem concluídas, começo a entender a rejeição à Bienal paulista e sua "arte efêmera". Porque, para além de conceitos sofisticados, nada restará dali. Para ninguém. Arte é outra coisa. Arte é o que nos legaram os poetas hoje aqui citados.
