
Um dos filmes mais ambiciosos de 2020, Tenet recebeu o Oscar de melhores efeitos visuais no último domingo (25). Na única estatueta que o longa de Christopher Nolan conquistou, o porto-alegrense Rodrigo Dorsch foi um dos operários. Radicado em Londres, ele é supervisor de composição da empresa britânica DNEG, que trabalhou com os efeitos visuais do filme.
— Foi uma emoção enorme. É um reconhecimento do nosso trabalho em escala global. Tu falas no Oscar, todo mundo sabe o que é. Tem esse peso — destaca Dorsch, 44 anos, sobre a estatueta que Tenet recebeu na categoria em que ele fez parte.
Ele também integrou o time de Interestelar (2014), do Nolan, que recebeu o Oscar de melhores efeitos visuais em 2015. Em Tenet, Dorsch foi responsável pela parte que se chama composição, que seria a finalização do trabalho. Como supervisor de composição, ele lida direto com o supervisor geral do projeto. Seu departamento é o último a trabalhar nas filmagens realizadas antes de elas irem para a edição final.
— A responsabilidade é muito grande porque é a imagem final. Ao mesmo tempo, a recompensa também é gigantesca. A gente sabe que é o nosso trabalho que vai estar lá na tela — atesta.
Sobre a premiação do Oscar, Dorsch ressalta que a categoria costuma ser bastante concorrida, especialmente pela evolução da tecnologia ao longo dos anos. Porém, ele observa que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (organizadora da premiação) tende a valorizar projetos em que os efeitos sejam essenciais para contar a história do filme, não apenas porque são mais vistosos ou realistas.as
Dorsch acrescenta que a Academia também valoriza os filmes que misturam técnicas — como efeitos práticos com computação gráfica, algo bastante comum nos filmes do Nolan.
— É um diretor que gosta do realismo, por mais absurdas que algumas ideias dele possam parecer. Mesmo esses mundos diferentes que ele cria, tem sempre esse pé no mundo real. Em Tenet há uma cena de um avião entrando num hangar, e nela foi utilizado um boeing mesmo. Nosso departamento trabalha em alguns pontos para aumentar e modificar certos detalhes, mas o efeito principal, que é o avião entrando em um hangar e destruindo aquilo tudo, foi filmado de verdade — explica.
Além de Tenet e Interestelar, outro filme de Nolan em que Dorsch também trabalhou foi Dunkirk. No ano passado, ele trabalhou no badalado Snyder Cut — versão original do cineasta Zack Snyder para o filme Liga da Justiça (2017). Também consta em seu currículo filmes como Thor: O Mundo Sombrio (2013), Velozes e Furiosos 6 (2013), Godzilla (2014), Star Trek: Sem Fronteiras (2016), entre outros.
Porto Alegre, Estados Unidos e, enfim, Londres
Filho do lendário músico gaúcho Beto Roncaferro, Dorsch é formado em Publicidade e Propaganda pela UFRGS. Ele começou trabalhando com design gráfico, sempre se identificando mais com o aspecto visual. Logo após se formar, partiu para os Estados Unidos. Em território americano, viveu em Los Angeles na maior parte do tempo.
Nos EUA, conheceu algumas pessoas que trabalhavam na área de efeitos especiais e foi introduzido a alguns programas da área. Dorsch voltou a estudar: foi se especializar na área na New York University (NYU).
— Naquela época, queria trabalhar com motion graphics (técnica de manipulação de imagens temporizadas, que cria a ilusão de movimento ou rotação), que seria pegar aquela parte de design gráfico que eu tinha e entrar mais para a área de movimento. Mas nisso eu descobri a parte de composição, que é a parte de efeitos visuais. Embora seja bem diferente, usava quase os mesmos programas. Comecei a aprender e me apaixonei — relata.
Dorsch começou trabalhando com formatos menores, dedicando-se a comerciais no início. Em seguida foi para a televisão, trabalhando em séries como Californication, CSI: Investigação Criminal e True Blood. Como sempre teve paixão por cinema, chegou uma hora que ele queria lidar com produções que iriam para a telona.
Ele mandou seus trabalhos para a DNEG, mas sem grandes expectativas. Passado alguns meses, a empresa o contatou. Após uma entrevista por telefone, Dorsch recebeu uma oferta e foi para Londres, onde vive há mais de nove anos.
— Sempre fui muito fã do trabalho deles. Via ali uma produção bem acabada e refinada. Recém tinham ganho o Oscar por A Origem (2010). E eu já tinha notado a qualidade deles em outros filmes, como Filhos da Esperança (2006), de Alfonso Cuarón — diz.
Dorsch também tem seu lado cineasta: ele chegou a dirigir um curta-metragem de ficção científica chamado Silent Night (2010). Com os conhecimentos que adquiriu na NYU, ele fez todo o filme em tela verde. Para Dorsch, seu curta foi uma experiência gratificante, a qual gostaria de repetir:
— Gostaria de voltar a dirigir um dia. Tenho algumas ideias, mas preciso ter o tempo. É uma atividade que eu gostaria de seguir fazendo, mesmo que por lazer.


