Ricardo Chaves
Em novembro de 1950, Romeu Beltrão escreveu: “O pesquisador do passado é qual o coveiro encarregado das exumações vencido o prazo de sepultamento. Alguns restos são atirados à vala comum do esquecimento, em que se misturam as ilusões sempre desiludidas da humanidade em luta com a sobrevivência. Outros merecem a contemplação de um ossário passageiro, que acabará esquecido num sótão, quando não se transformar em carga inútil e embaraçante. Uns poucos, pouquíssimos, recebem a consagração de um mausoléu, erguido muitas vezes pela vaidade do dinheiro. Destes quase não cura o historiador, porque na lápide custosa carregam pelo presente, muitas vezes, condescendente dos epitáfios pagos por letra. Seu íntimo prazer reside em ressuscitar os mortos quase esquecidos, aqueles que, pelas suas ações, merecem um mausoléu imperecível nas páginas da história, porque foram pioneiros de uma ideia, ou de um empreendimento, cujas sementes, por ele espalhadas despretensiosamente, resultaram em frutos preciosos para o presente. Seus restos mortais foram de há muito incorporados ao solo abençoado desta terra, em que as gerações se sucedem em berços embalados sobre túmulos, enquanto suas memórias se reavivam sempre nas próprias renovações da cidade a crescer indiferente aos íntimos anseios dos corações. Sobre o acampamento do rincão de Santa Maria ergue-se uma cidade febricitante de progresso e pelas picadas, a custo vencidas pelos demarcadores, deslizam rápidos os veículos automotores. É a civilização em sua marcha inexorável.”
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