O Rio Grande do Sul registrou uma nova desaceleração no crescimento de sua população nos dados preliminares do Censo Demográfico 2022 divulgados na semana passada. Enquanto o número de habitantes em todo o Brasil aumentou 8,9%, passando de 190,7 milhões, em 2010, para 207,7 milhões, em 2022, o percentual nos municípios gaúchos foi de 3,7%, com ampliação de 10,7 milhões para 11,1 milhões no mesmo período.
Os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são preliminares, uma vez que as entrevistas com a população ainda estão sendo realizadas – o percentual de domicílios recenseados, até 25 de dezembro, era de 86,8%. Por isso, os números ainda sofrerão variação.
O crescimento da população gaúcha abaixo da média nacional não é de hoje – é percebido desde os anos 1950. Nas últimas cinco décadas, se acentuou. A maior distância foi na comparação entre os censos de 2000 e 2010, quando o número de habitantes no RS cresceu 5%, contra 12% no Brasil.
Segundo Pedro Zuanazzi, diretor do Departamento de Economia e Estatística (DEE) da Secretaria Estadual de Planejamento, Governança e Gestão, como os dados do Censo são preliminares, ainda passarão por correções, como já aconteceu na edição de 2010, quando o número de habitantes inicialmente era 10.693.929, quando saiu o levantamento, mas, depois, foi ampliado pelo IBGE para 10.914.000. Mesmo assim, o pesquisador relata que a tendência de desaceleração já era sentida em outros anos. Em Porto Alegre, por exemplo, por enquanto há registro até mesmo de uma leve queda na população, de 0,4%.
— Já víamos em 2010 essa desaceleração no crescimento de Porto Alegre, com um crescimento, em paralelo, da população da Região Metropolitana e, principalmente, em Caxias do Sul. Também havia crescimento no Litoral Norte e na metade Norte. Tudo isso tem relação com fatores econômicos — observa Zuanazzi.
Em 2022, os municípios que mais tiveram aumento populacional no RS foram Araricá, Imbé e Nova Petrópolis.
Razões para a desaceleração
Há dois fatores principais para a desaceleração, cuja tendência, no futuro, é se tornar uma diminuição da população gaúcha. O primeiro é a taxa de natalidade, conforme o diretor do DEE.
— Os casais estão tendo menos filhos e essa é uma tendência de longo prazo. A população só se mantém constante se cada mulher tiver 2,1 filhos e, no começo dos anos 2000, a taxa de reposição já era de dois filhos por mulher. Isso acontece no Brasil todo, mas está acontecendo mais rápido no Rio Grande do Sul — relata Zuanazzi.
O segundo fator é a migração para outros Estados. Em Santa Catarina e Paraná, apesar de a taxa de reposição também ter caído, ocorre uma compensação, com pessoas de mudando de outros lugares para morar lá. No Rio Grande do Sul, isso não acontece. Pelo contrário: de acordo com o pesquisador, historicamente, o saldo migratório em solo gaúcho é negativo.
— Tem pessoas que vão embora porque querem morar na praia, ou para trabalhar em atividades agrícolas no Centro-Oeste do país ou no interior de Santa Catarina e Paraná, onde há abundância de terras. Ao mesmo tempo, ficamos distantes, geograficamente, de regiões como o Nordeste, que perdem muita população por migração, mas cujas pessoas escolhem se instalar em Estados mais próximos — analisa o diretor.
Via de regra, quem tende a migrar são pessoas mais jovens, que estão em idade produtiva e reprodutiva. Em municípios menos populosos, Zuanazzi considera que a preocupação com a perda dessa população não é tão grande, uma vez que quem paga a previdência dos cidadãos costuma ser o governo federal. Em cidades maiores e no funcionalismo estadual, no entanto, existem previdências próprias, o que faz com que, com a migração dos jovens, possa ocorrer um desequilíbrio, uma vez que as despesas obrigatórias se mantêm as mesmas, mas o crescimento econômico diminui.