Desde abril, um projeto do governo voltado para quem vai fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste ano está disponível online, oferecendo aulas, exercícios e simulados – grande parte, gratuitamente – aos candidatos. Faltando quase seis meses para as provas, que ocorrem em 5 e 6 de novembro, já são mais de 1 milhão de usuários cadastrados na plataforma Hora do Enem. Mas, com tanta oferta de vídeos, resoluções de questões e acompanhamento de professores, presencialmente ou a distância, será que vale a pena organizar os estudos pela plataforma do Ministério da Educação (MEC)?
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Professores ouvidos pela reportagem concordam em dois aspectos: a ferramenta é, sim, um auxílio valioso para os candidatos que não têm acesso a cursinhos preparatórios ou outros programas do tipo – e mesmo para quem tem, mas deseja revisar os conteúdos. Porém, eles ressaltam outro ponto, de que estudar pela plataforma não substitui aulas de verdade e discussões em sala.
Para fazer uma avaliação da Hora do Enem, Zero Hora ouviu educadores do Ensino Médio ligados a escolas de Porto Alegre, já que, entre os cursinhos, muitos contam com plataformas próprias.
Ferramenta deve ser vista como complemento
A iniciativa do MEC incentiva um uso "complementar" às aulas ao garantir vantagens a alunos que estão matriculados no 3º ano do Ensino Médio – e, portanto, frequentam aulas no colégio. Quem já concluiu a Educação Básica pode realizar exercícios, participar de simulados e conferir os programas gravados, mas só tem acesso a todas as funcionalidades da Hora do Enem se aderir a um plano pago.
O MEC enxerga o programa como um incentivo, principalmente, a alunos das redes pública e privada que não têm condições de arcar com um curso preparatório. Mais de 580 mil estudantes participaram do primeiro simulado, realizado no final de abril, sendo 79% deles da rede pública. Dados da pasta dão conta de que, dentre as mil escolas com melhores resultados no Enem, menos de 10% são públicas, justamente as frequentadas pela maior parte dos estudantes do país.
Facilidade de acesso
Professores que já trabalham com a plataforma em sala de aula ou experimentaram o site pela primeira vez elogiaram a apresentação e a facilidade de uso dos programas. Destacando que a navegação é intuitiva e simples de entender, mesmo para quem nunca tinha se aventurado por uma página assim. Eles garantem que não há dificuldade em entender o projeto.
Entre os jovens, então, a familiaridade é ainda mais comum. A estudante Larissa Beatriz, que pretende cursar Relações Internacionais em uma universidade federal, diz que nem precisou se acostumar com a página, já "saiu estudando":
– A apresentação é boa, ajuda você a se manter focado nos estudos. E ainda dá para ter um plano personalizado, voltado para aquilo em que a gente tem mais dificuldade.
A facilidade se dá porque a tecnologia utilizada na plataforma é muito semelhante à dos cursos online que vêm oferecendo conteúdo há mais tempo. Há alunos que, inclusive, podem já ter usado o portal online de aprendizagem adaptativa, visto algumas das videoaulas ou conferido a resolução de exercícios, uma vez que o MEC usa o conteúdo de instituições que já produziram esse material e são parceiras da Hora do Enem.
Distribuição de conteúdos
A plataforma de estudos online prevê uma série de lições, baseadas nos itens previstos no edital do Enem, que são oferecidas aos estudantes cadastrados. A divisão é considerada adequada, com foco naquilo em que os candidatos mais têm dificuldades, mas não deixando de lado as matérias em que o aluno foi bem.
A distribuição de conteúdos depende do uso que faz cada aluno: quem errou muitos exercícios sobre gravidade em questões de física, por exemplo, recebe uma recomendação personalizada para se focar mais nesse assunto.
Um problema apontado pela professora de redação Carmen Gobatto, porém, é que só há dicas das quatro grandes áreas do conhecimento cobradas no Enem: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas. Falta, nessa divisão, uma seção dedicada à Redação, uma das provas mais temidas.
– É possível fazer isso a distância. O importante é ter um levantamento de temas, sugerir materiais para o aluno ler e incentivar que ele escreva. Filmes, músicas, poemas podem servir de estímulo – avalia.
Ao apresentar o projeto, em abril, o ex-ministro da Educação Aloizio Mercadante disse que estava em avaliação introduzir a prova de redação nos simulados. Por enquanto, não há mudança de planos.
Qualidade do material
Quem tem dúvida sobre a qualidade do conteúdo pode se surpreender ao saber que o material é preparado em parceria com professores de cursinhos com boa representação online no país.
O programa diário de televisão, transmitido pela TV Escola e 40 emissoras parceiras, é feito com apoio de professores de quatro deles: Descomplica, QG do Enem, FGV Ensino Médio e Pitágoras. Já a plataforma online usa a estrutura do Geekie Games, que há anos realiza grandes simulados nacionais. Também estão disponíveis planos de estudos e videoaulas.
Para a professora de Geografia Fabiana Martins, as lições da Hora do Enem são bem direcionadas, mas pecam ao não abordar os assuntos em profundidade.
– Parece que falta detalhar mais cada tópico. As explicações são boas, mas a plataforma se limita a informar o que geralmente cai nas provas, sem ir além – diz a professora, que dá aulas em uma escola pública de Ensino Médio em Porto Alegre.
Fabiana acredita que o material disponibilizado aos alunos, apesar de não citar quais livros didáticos usa como fonte, tem boa qualidade, mas poderia também abordar temas que fazem parte do currículo das escolas e que não caem no Enem.