Ainda não há previsão de frio para este inverno, mas o calorão histórico em pleno agosto está com os dias contados. Espera-se para o final da semana, com boa quantidade de chuva, a chegada da primeira frente fria forte o bastante para romper o bloqueio atmosférico responsável pelo verão fora de época. Calor fora de época é bom para os consumidores e ruim para os lojistas
A segunda-feira foi mais um dia com cara de fevereiro em grande parte do Estado. A temperatura chegou a 32,7ºC em Campo Bom, no Vale do Sinos. Na Capital, foi o quinto dia consecutivo com marca acima de 30ºC. Não é uma situação corriqueira. Segundo o 8º Distrito de Meteorologia, houve apenas outras três ocasiões em que o mês de agosto registrou cinco ou mais dias com termômetros além de 30ºC. Altas temperaturas seguirão até o fim desta semana no Estado
O dia mais abrasador foi o sábado, quando Porto Alegre teve 35,2ºC, um patamar poucas vezes visto. Desde 1916, quando começaram as medições, não há registro de máxima tão alta na cidade em um mês de agosto. Em um século de inverno, os termômetros só ultrapassaram essa marca quatro vezes - todas em setembro, quase na primavera.
Neste mês, as temperaturas mínimas ficaram em 18,5ºC, na média. As máximas, em 28ºC. Isso está acima das médias históricas - de 12ºC e 20ºC, respectivamente. O agosto mais quente foi o de 2012, com máxima média de 26,3ºC.
O veranico foi causado por um fenômeno chamado de bloqueio atmosférico - uma imensa bolha de calor estacionada sobre parte do território brasileiro, incluindo o sul do país, que impede a entrada de frentes frias e de massas de ar polar, como se fosse uma muralha.
- Não é uma coisa de outro mundo, mas este inverno está atípico. Essa massa de ar seco abrangeu Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Com o tempo, como ela não se desloca, vai perdendo umidade e se aquecendo cada vez mais. Enquanto uma frente fria com maior força não chegar, esse bloqueio vai continuar - diz o meteorologista Gilberto Diniz, do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas.
Não há consenso sobre a influência do El Niño
Já se esperava que este inverno fosse menos frio do que na média, em consequência da ação do El Niño. O fenômeno aumenta a nebulosidade e a precipitação sobre o RS. Mais nuvens significam menor esfriamento da terra durante as madrugadas. Por causa disso, as temperaturas mínimas não são tão baixas. Isso explica que junho e julho tenham sido amenos. Alguns institutos de meteorologia, como o Climatempo, associam o El Niño ao atual bloqueio atmosférico, mas outros profissionais, como Diniz, entendem ser coisas distintas.
O meteorologista Luiz Souza, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, também diz não ser possível relacionar o bloqueio atmosférico ao El Niño. Ele observa que a circulação dos ventos colaborou para aquecer ainda mais o sistema.
- Nesses últimos dias, tivemos a formação de uma circulação anticiclônica, que faz o ar quente descer. Estão soprando ventos do norte, que são mais quentes - observa.
Na segunda, choveu no sul e no oeste do Estado, que estão nas bordas do bloqueio. Também houve vendavais com rajadas acima dos 100 km/h na região de Santa Maria. A previsão é de pancadas de chuva ao longo da semana em partes do RS, com temperatura mais amena - mas ainda não típica de inverno. O meteorologista Gil Russo, do 8º Distrito de Meteorologia, afirma que o rompimento do bloqueio deve ocorrer apenas no sábado, trazendo chuva para todas as regiões.
- Será uma frente fria, mas não uma massa polar. Frio, talvez, só mais para o final do mês - especula.
Gilberto Diniz também crê na queda de temperatura:
- O inverno ainda não acabou. Vamos ter frio.
Entenda o clima:
Cadê o inverno?
"Bolha de ar quente" é a causa das temperaturas altas no Rio Grande do Sul
Temperaturas mínimas ficaram em 18,5ºC, na média, neste mês
Itamar Melo - de Capão da Canoa
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project