A orientação do Palácio Piratini aos integrantes do governo e aos líderes da base aliada é para "conduzir a pauta das discussões sempre no conceitual, no genérico, no que de fato importa, não no específico". O que "de fato importa" para o governo é vender o pacote usando a linha da "mudanças versus crise", "mudanças versus conformismo", "mudanças versus situação atual". O manual ensina que é preciso reforçar sempre a expressão "Novo Estado. Novo futuro". E detalha: "Temos uma proposta de futuro. Apropriar-se desse conceito também. Futuro versus passado. Novo versus atraso, o que não funciona mais".
Do ponto de vista do marketing, pode ser uma grande sacada. Mas esta não é uma questão de marketing. Pela profundidade das mudanças propostas, o desejável não é convencer a população – e os deputados, que têm poder para decidir – por um slogan ou frase de efeito, mas pela força dos argumentos. Sim, é preciso discutir o mérito de cada proposta.
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A população tem o direito de saber o que faz cada órgão que o governo quer extinguir ou privatizar e como ficarão os serviços. De saber quanto custa, como são financiadas, quantos são os servidores, quais são os salários pagos, se estão de acordo com o mercado, se há distorções.
Não se trata de trocar o atacado pelo varejo, como sugere o discurso governista, mas de dar transparência às mudanças.
O próprio governo, que criou um portal específico para agrupar as notícias referentes ao pacote (www.novoestado.rs.gov.br), pode ampliar a radiografia das instituições e apresentar seus argumentos em defesa da extinção ou da privatização, da mesma forma que os servidores estão fazendo nas redes sociais.
A secretária do Ambiente, Ana Pellini, está disposta a fazer esse debate aberto em relação à Fundação Zoobotânica. Para garantir que o Jardim Botânico, o Zoológico e o Museu de Ciências Naturais serão preservados, os três foram declarados “integrantes do Patrimônio Ambiental do Estado”. A Sema vai manter o Jardim Botânico e não descarta conceder o Zoológico à iniciativa privada. O edital de concessão deve prever o serviço básico a preço acessível, como é hoje, e abrir a possibilidade de construção de equipamentos em que se cobrariam ingressos mais caros. Um oceanário, por exemplo.