Sem chamar atenção do mundo ou provocar qualquer mobilização internacional, uma tragédia silenciosa emerge na Nigéria mais uma vez. Cento e cinco meninas, estudantes de 12, 13 anos, estão desaparecidas desde a ação do grupo extremista Boko Haram, hoje mais mortífero do que o Estado Islâmico.
Mas, como o sequestro ocorre na África, não desperta interesse.
Tudo começou em 22 de fevereiro, quando terroristas invadiram a escola em Dapchi. Estudantes e professores tentaram fugir. No desespero, ficaram ao chão chinelos e sandálias das vítimas, em um rastro de medo.
Além da falta de indignação — e mobilização — da comunidade internacional, os familiares enfrentam a descaso do governo local, que negou, ao longo da semana, o sequestro.
Uma associação de pais foi criada nos últimos dois dias. Só então foi feita uma lista com os nomes das meninas desaparecidas. Foi então que se chegou ao número de 105. Pode ser mais.
A tragédia se repete. O caso lembra muito o das alunas de Chibok, no estado vizinho Borno, há quatro anos. Na época, foram levadas 276 estudantes.
Uma das meninas que conseguiu escapar dos extremistas desta vez, Aisha Yusuf Abdullahi, contou que várias de suas colegas escalaram o muro da escola, antes de entrarem em veículos estacionados no lado externo. Esses carros poderiam pertencer aos terroristas.
O Boko Haram tem espalhado o terror pelo nordeste da Nigéria, em um conflito que deixou mais de 20 mil mortos e 2,6 milhões de deslocados desde 2009.