Poucos dias depois de lançar no Brasil o livro Keynes – Ensaios sobre os 80 anos da Teoria Geral, que organizou com Fabio Terra, o professor da UFRGS Fernando Ferrari Filho desembarcou em Lexington, cidade na Virginia a menos de três horas de carro de Washington, onde ministra curso sobre economia brasileira na Washington and Lee University. Apesar de americanos chamarem propostas econômicas de Donald Trump de neokeynesianismo, Ferrari discorda de forma veemente.
Além dos rumos da economia americana, inquieta-se com a reação a posições do futuro ocupante da Casa Branca. Conta, por exemplo, que na cidade onde está, de 15 mil habitantes, contados os universitários, a Ku Klux Klan organiza atos de apoio a Trump neste final de semana, véspera do Martin Luther King Day.
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Trumponomics
"Trump não é neokeynesiano. A expressão é inapropriada. Keynes admite proteção apenas para setores nascentes. O maior desafio na economia americana não é gerar postos de trabalho, porque o desemprego está próximo do nível histórico, mas consolidar a retomada do crescimento. Na economia, Trump ainda é uma incógnita. O que pode moldar um pouco seu discurso racista e xenófobo, contrário ao comércio internacional, associado ao crescimento, são os agentes econômicos, é o mercado. O interesse das empresas e dos empresários americanos pode atuar melhor do que o Congresso como sistema de freios e contrapesos a Trump."
A crise no Brasil
"Sou favorável à sinergia entre Estado e mercado, à privatização de Sulgás e CEEE no Estado, por exemplo. Keynesianismo não é sinônimo de estatização. A situação do Brasil é complexa, não só por erros na gestão Dilma, mas por acúmulo de erros do passado. O país não tem mecanismos para incentivar a economia e, se reduzir muito o juro, quem se beneficia dos ganhos vai botar a boca no trombone. O Brasil terá de passar por reformas estruturais, revisão de marcos regulatórios. O problema é que isso tem de passar pelo Congresso. Em um presidencialismo de coalizão, o que se impõe são alianças espúrias, não princípios ideológicos."