Algumas das vias nevrálgicas de Porto Alegre infartaram mais uma vez, na manhã desta sexta-feira. Manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), contrários ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, fecharam todas as pistas das avenidas pelas quais transitaram. Isso aconteceu na Ponte do Guaíba e nas avenidas Sertório, Farrapos e Borges de Medeiros, no sentido bairro-Centro.
Até vias que não foram interrompidas pela passeata anti-impeachment sofreram consequências indiretas. É o caso da Rua Duque de Caxias, parcialmente bloqueada pela própria Brigada Militar nas proximidades do Palácio Piratini, para impedir que os manifestantes se aproximassem demais da sede do governo estadual.
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O resultado foi o de sempre: tráfego lento, quase parado. Buzinaços. Motoristas gritando palavrões. Desvio do fluxo de veículos para vias laterais que não têm capacidade para suportar tantos automóveis. Um nó no trânsito, em resumo.
Já tinha acontecido antes, só que por parte de militantes de direita. Quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi indicado ministro do governo Dilma, em 16 de março (nomeação que está suspensa pela Justiça), manifestantes contrários ao governo bloquearam durante várias horas a Avenida Goethe e também a parte fronteiriça ao Palácio Piratini.
Bloqueios como esses são um desrespeito sistemático a um protocolo firmado por autoridades federais, estaduais e municipais de Porto Alegre em 28 de dezembro de 2015. O acordo prevê ações integradas para evitar que ruas sejam interrompidas durante manifestações e estabelece necessidade de negociação com líderes dos manifestantes quando ocorra interrupção de vias.
Por que o protocolo é desrespeitado? O coronel Mário Ikeda, chefe do Comando de Policiamento da Capital (CPC) da BM, admite que os manifestantes têm interrompido todas as vias quando caminham por elas e não apenas uma, como ficou definido no acordo. Mas ele faz uma diferença entre caminhada (que aconteceu nesta sexta) e bloqueio da avenida.
– Na caminhada, apesar da lentidão, o tráfego flui. No bloqueio, não. Essa é uma das razões que nos levou a não tomar uma atitude mais drástica – pondera o coronel.
O protocolo estabelece que, se esgotadas as negociações ou não existir diálogo, a tropa especializada em intervenções de controle de distúrbios civis deve ser acionada pelo órgão que estabeleceu o contato com os militantes. Isso também não foi feito, mas Ikeda explica o porquê. É que a remoção forçada dos manifestantes exigiria presença de grande efetivo policial, que não pode ser reunido de uma hora para outra. E que traria um desgaste à BM, além de risco aos participantes do protesto.
– É preferível o diálogo, até porque as manifestações têm sido constantes. Mas não permitiremos bloqueio total de vias e estagnação do trânsito – avisa o comandante do CPC.
O presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Vanderlei Cappellari, diz que os azuizinhos têm procurado desviar o tráfego quando há manifestações, mas concorda com Ikeda.
– Seria difícil simplesmente remover os manifestantes. Recomendamos usar o bom senso – explica.