Ao dar o pontapé inicial da caravana que fará pelo Estado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu apoio de militantes e movimentos sociais, mas também teve de enfrentar a hostilidade de produtores. E se o argumento para a mobilização em Bagé era o de que, condenando em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, ele deveria estar atrás das grades, a origem da tensão é anterior a esse episódio.
O ranço dos ruralistas com a legenda tem relação com o que consideram mais sagrado: o direito à propriedade. Muito embora reconheçam que os maiores embates com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tenham se dado na era pré-Lula e que a reforma agrária tenha andado a passos lentos nas gestões do partido, foi nos mandatos do PT – inclui-se o período da presidente Dilma Rousseff – que os movimentos sociais ganharam voz e força política.
– O agronegócio tem lado, sempre teve. Historicamente, tivemos grande dificuldade de convivência com o partido, mas mantivemos o diálogo. Nosso calcanhar de aquiles chama-se direito à propriedade – afirma Gedeão Pereira, presidente da Federação da Agricultura do RS (Farsul).
A mobilização em Bagé foi organizada pelo sindicato rural e contou com a participação de outras entidades do município. Segundo Rodrigo Moglia, presidente do sindicato rural, produtores levaram caminhões e tratores para o protesto.
Mas, se parte dos que se reuniram exercia o livre direito de se manifestar, outra apelou para ações que não condizem com um ambiente democrático. Frases com palavrões podiam ser lidas em faixas posicionadas entre máquinas. E uma pessoa foi presa após jogar pedras contra um ônibus da caravana. Moglia garante que esses excessos não tiveram aval da entidade:
– Ocorrem manifestações individuais sobre as quais não temos controle. Sabíamos que corríamos esse risco, mas não poderíamos deixar de estar lá por causa disso.