Não são apenas o varejo e o mercado financeiro que estão de olho no que o Banco Central fará da taxa de juro Selic, a referência da economia brasileira. O campo também. Para os produtores voltarem a comprar máquinas agrícolas, querem crédito menos caro. A Selic vem caindo 0,5 ponto percentual a cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A intenção é que a autoridade monetária siga cortando, mas, para isso, a inflação precisa ficar tranquila e o governo federal não pode extrapolar as contas públicas. Além disso, políticas públicas de crédito para o agro também são bem-vindas.
- Precisa de injeção de recurso para que o produtor possa financiar e reaquecer novamente as indústrias de máquinas e equipamentos - disse o presidente da Expodireto Cotrijal, Nei Mânica, durante entrevista do Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, transmitido diretamente de Não-Me-Toque nesta segunda-feira (4).
A indústria de máquinas agrícolas teve anos de vendas altíssimas. Agora, há queda, o que leva fábricas a fazerem ajustes, como suspensão de produção e demissões de trabalhadores. Podem ser medidas de curto prazo com perspectiva de melhora em breve, mas algum impacto é sentido. O próprio presidente do Sindicato da Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul (Simers), Claudio Bier, enfatiza que as fábricas gaúchas respondem por 62% da produção nacional.
Os preços das commodities caíram, especialmente da soja, que é o principal grão do agronegócio gaúcho. Isso tira renda do produtor para gastar. Outro alerta é para o passivo, formado pelo endividamento dos agricultores. À coluna, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que o governo federal fará a repactuação de dívidas.
Confira aqui alguns trechos da entrevista do presidente da Expodireto Cotrijal, Nei Mânica, à Rádio Gaúcha e ouça a íntegra no final da coluna.
Como bater os R$ 7 bilhões em negócios com a retração nas vendas de máquinas agrícolas?
Mesmo que as commodities tenham caído de preço, o clima está correndo bem. Os bancos têm financiamentos a longo prazo e a Selic está caindo, isso ajuda o produtor que está capitalizado. O mais importante é que as empresas vêm com preços especiais.
Sobre o produtor estar capitalizado, o senhor fez um sinal de "mais ou menos"...
A maioria está com passivo grande do passado e a safra cheia de agora não comporta o pagamento. Estamos trabalhando com ministro (da Agricultura, Carlos Fávaro) e com o governo, para ver se equacionamos esse passivo. Então, teremos bons negócios, mas a situação do produtor não é tranquila.
Qual o impacto do crescimento menor do PIB da China?
É um dos maiores consumidores das commodities brasileiras, grande parceiro comercial. Se desacelera, trava comercialização, caem preços. A China é uma oportunidade, mas pode ser uma ameaça na dependência das commodities. Aqui na Expodireto, as maiores delegações estrangeiras vêm da China.
Quando o campo vai substituir o diesel das máquinas agrícolas por combustíveis renováveis?
Aqui no Rio Grande do Sul, os avanços têm acontecido lentamente. É uma realidade mudar a matriz produtiva de máquinas e equipamentos, mas leva um período de transformação. Os carros elétricos estão entrando. Na Europa e em outros países desenvolvidos, já está mais avançado. Não temos muita infraestrutura, mas temos que avançar.
Ouça a entrevista completa:
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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