Francisco Marshall
Há por trás do muro e dos trilhos uma praça abandonada, entre ruínas, onde jazem memórias e poéticas de uma cidade que já foi e sempre pode ser bela. Nessa praça, emanam graça duas lindas ninfas que o escultor Adolf Adloff (1874-1949) extraiu da pedra, escoradas na bacia de uma fonte, cercadas por 14 palmeiras. De costas para as águas e hoje mutiladas, tal como esta Porto Alegre, essas ninfas são bom símbolo da incúria com que maltratamos bens preciosos; estão na área do cais, o local predileto para abandonos e perdas deste Estado e desta cidade. Elas miram a selva de pedra e insinuam o pensamento: por que e até quando vamos desdenhar a beleza, o patrimônio, a memória e a história, e massacrar as potências da poesia e da inteligência com a violência insensata e insensível da tecnocracia?
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