Eliane Marques
Laura – Estou cada vez pior. Além de não conseguir dormir, de não conseguir transar com minha mulher, de não conseguir pagar minhas dívidas, agora me brotaram bolinhas nojentas na barriga da perna. Parecem grãos em pequenos sacos dispostos na mesa da minha panturrilha. Por tudo isso, resolvi procurar outro babá para cuidar da minha espiritualidade. Ele se chama Alarino. É filho de Nanã – sou de Nanã, euá, euá, euá, ê; sou de Nanã, euá, euá, euá, ê; sou de Nanã, euá, euá, euá, ê. Sinto-me culpada por ter deixado o terreiro. Mas não poderia aguentar mais tanta violência do babá Querino. Escuto ainda a voz dele colada ao meu ouvido direito me dizendo que meu futuro será de infelicidade com a mulher que eu decidi amar, com a casa que nós resolvemos comprar, com a vida que eu resolvi levar.
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