Eliane Marques
O liame social que noz faz gente começa na cozinha. Por isso, prefiro me referir ao inhame social. A cozinha encarna a grande outra na amefricanidade, ou seja, o mundo da linguagem que nos aliena e nos faz sentido e nonsense. Nesse espaço segregado até a chegada das casas em conceito aberto, as Mães Pretas cozinhavam (e suas substitutas continuam cozinhando) a comida de sinhás, senhores, escravizadas, livres, libertos. Mas não há comida que não seja nome, dito, esconjuro, provérbio, canção. A comida é fala tanto em sua feitura quanto em sua incorporação pela boca dos comedores. Por isso, no segregado estava o segredo da constituição da amefricanidade já cortada pela negridão das palavras primordiais. Na proporção em que as Mães Pretas nutriam com comida, nutriam com símbolos.
- Mais sobre:
- caderno doc