
Desde 2011, o percentual de multas aplicadas em relação ao número de abordagens da operação Balada Segura no Rio Grande do Sul mostrava uma sequência de queda. Entre janeiro e agosto de 2014, essa tendência foi interrompida: nas 36.140 abordagens a motoristas no período, 3.465 foram autuados, ou seja, 9,58%. No ano passado, esse índice tinha sido de 8,36%, e, nos períodos anteriores, 11,12% (2012) e 12,15% (2011).
Ainda que o ano não tenha acabado, algumas mudanças na Balada Segura podem ter afetado o comportamento dos motoristas. De acordo com o diretor institucional do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Adelto Rohr, circula um boato em Porto Alegre - cidade responsável por 243 das 550 blitze ocorridas no Estado (44%) - de que a fiscalização diminuiu. A origem da informação enganosa é a mudança dos locais e horários das blitze na Capital, o que deu a impressão de afrouxamento nas regras.
- Sempre tem aquele tensionamento: será que estão fazendo blitz? Será que não? Na verdade, modificamos rotas e horários, e aumentaram as equipes em Porto Alegre. Mas comentários nas redes sociais diziam que estava diminuindo a fiscalização - afirma Rohr.
O efeito psicológico nos motoristas costuma afetar as planilhas da Balada Segura. Conforme Rohr, sempre que se abre a discussão sobre a legalidade ou não de se autuar quem se recusa a passar pelo exame de bafômetro, por exemplo, há um aumento nas multas por até dois meses seguidos por causa da sensação de afrouxamento nas regras. Como não houve discussões mais acaloradas sobre a legislação este ano, Rohr entende que outros fatores podem ter afetado as tabelas: novos municípios integrantes da operação (como Vacaria, Bento Gonçalves e Novo Hamburgo) e a percepção de que há muitos motoristas perdendo o direito de dirigir.
O engenheiro civil e professor da Unisinos João Hermes Junqueira, mestre em Transportes, considera que ainda é cedo para consolidar uma nova tendência. Caso as multas continuem a subir em relação às abordagens nos próximos anos, aí sim poderá se confirmar uma mudança de comportamento dos motoristas.
- Ao longo do tempo, os dados estão mostrando que quanto mais abordagens se faz, mais se reduz o número de infrações. Isso ocorre porque as pessoas estão enfrentando a Balada Segura corretamente, sem bebida. Este ano tem uma reversão. Ou é um movimento fora da curva ou, se isso tiver continuidade, talvez as pessoas não estejam mais acreditando, não estejam preocupadas, e acabam sendo pegas - analisa Junqueira.
Caso a conclusão seja de que a desobediência aumentou, o engenheiro sugere uma medida efetiva para voltar a controlar os rebeldes: aumentar o valor das multas.
Ainda este ano, o Detran planeja ampliar a lista de municípios que participam da Balada Segura. Deverão ser incluídos Caxias do Sul, São Borja, Itaqui, Quaraí e Gravataí. Para 2015, o funcionamento da operação ainda é uma incógnita por causa da mudança no governo estadual.