
Para a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), a causa da lentidão no trânsito quando chove em Porto Alegre está no costume de as pessoas preferirem o carro ao transporte público. É a velha questão do conforto, da liberdade, de não precisar caminhar até uma parada para pegar o ônibus e ficar um pouco molhado. Por isso, em dia de chuva há ainda mais veículos particulares nas ruas.
Conforme levantamento da Gerência de Planejamento de Transportes da EPTC, quando chove, o número de passageiros costuma cair em média entre 100 mil e 150 mil.
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Mas o diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari, concorda com os especialistas que atribuem essa decisão das pessoas à má qualidade do transporte público. Para Cappellari, o alcance do sistema de ônibus na cidade é bom, e a EPTC tenta instalar paradas de forma que não seja necessário caminhar demais até elas, mas falta dar às linhas de coletivos a velocidade necessária para superar as vantagens do automóvel.
- O tempo de viagem do transporte público deveria ser bem menor que o dos carros. Se vou de carro e levo uma hora e de ônibus levo meia hora, poderei escolher o transporte público - argumenta Cappellari.
O excesso de carros nas ruas em dias de chuva tem outros outros efeitos. Com o aumento dos cuidados do motorista, a velocidade dos veículos diminui. O arranca-e-para também afeta o tráfego porque quem leva outras pessoas de carona costuma parar no ponto mais próximo de onde ela deve descer, gerando filas na pista.
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As panes mecânicas são outro fator frequente em dias chuvosos, cujo resultado é a formação de engarrafamentos. Em caso de acidente, há ainda uma desinformação que leva a paralisações no trânsito: em acidentes somente com danos materiais, os motoristas ficam no local esperando o agente de trânsito porque acham que ele vai comprovar de quem foi a culpa.
- Mas a nossa ocorrência serve para identificar os condutores e relacionar os danos. A culpa depende do entendimento entre os motoristas ou de uma ação judicial - explica Cappellari.
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Foto: Diego Vara

Diretor da Embarq Brasil e fundador do Laboratório de Sistemas de Transportes da UFRGS (Lastran), o engenheiro civil Luis Antonio Lindau entende que a população deveria se organizar melhor em casos como os de uma grave chuvarada, sem empurrar todas as decisões para o poder público.
- Quem tem uma van, por exemplo, pode usá-la para caronas. No Japão isso é comum: quando acontece um terremoto, cada um tem um papel a cumprir - diz Lindau.
O especialista afirma que a tendência é o clima piorar cada vez mais no mundo devido ao desequilíbrio ambiental, o que torna necessário mais planejamento. Ele confia que Porto Alegre possa desenvolver projetos de prevenção por fazer parte do grupo de cem cidades resilientes no mundo, aptas a receber uma parcela dos US$ 100 milhões previstos pela Fundação Rockefeller para investimentos nessa área. Segundo o secretário municipal de Governança, Cezar Busatto, o programa de resiliência local está em fase de diagnóstico, e deve começar a se definir a partir de janeiro de 2015.
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EPTC prevê a instalação de até 80 nobreaks
Questões técnicas também influenciam na fluidez do trânsito em dias de chuva. Um problema é o risco da queda de energia em dias chuvosos, afetando as sinaleiras. Para enfrentar o problema, o órgão de trânsito incluiu uma parcela das contrapartidas de obras de empreendimentos comerciais na aquisição de melhorias para a mobilidade urbana.
A principal aposta é nos nobreaks. O equipamento impede que uma queda de energia tire o semáforo de ação. No final de setembro, a EPTC iniciou a instalação de nobreaks nas sinaleiras do cruzamento entre as avenidas Ipiranga e Salvador França. Entre 70 e 80 novos aparelhos deverão ser colocados assim que forem adquiridos por contrapartidas, segundo Cappellari. Ainda não há uma data para que isso ocorra.
Foto: Diego Vara
