Pai do menino Rafael Mateus Winques, Rodrigo Winques ingressou no plenário na tarde desta terça-feira (17) vestindo uma camiseta na qual aparece ao lado do filho. O agricultor é a sexta testemunha ouvida durante o julgamento em Planalto. Alexandra Salete Dougokenski, 35 anos, é acusada de ter assassinado o filho e está presa desde maio de 2020.
Logo no começo do depoimento, foi indagado pelo promotor Diogo Taborda sobre como era sua relação com o filho e disse que era boa. Rodrigo afirmou que no dia 15 de maio de 2020 estava em Bento Gonçalves, na Serra, trabalhando numa área rural, quando recebeu um telefonema.
— Estava na roça de manhã e ligaram do telefone do Rafael. Ela ligou. Achei que era ele. Ela (Alexandra) disse: "Aqui não é o Rafael, o Rafael sumiu" — narrou.
Disse que seguiu, no sábado, em direção ao município de Planalto, para saber do paradeiro do filho. O promotor questionou se ele chegou a ir a Planalto naquela semana, antes do desaparecimento do garoto. A defesa sustenta que o agricultor teria estado no município e que estaria envolvido no crime. Rodrigo reafirmou, como diz desde o início, que estava na Serra.
— Não, só vim no sábado. O casal (de conhecidos) me trouxe. Eu não tinha como vir — afirmou, detalhando que estava sem carteira de motorista e que precisou de carona para seguir até Planalto.
Rodrigo disse que fez a viagem após receber um telefonema do Conselho Tutelar, que orientou que ele seguisse para o município. Afirmou ainda que a viagem durou cerca de cinco horas.
— Quem me ligou para mim vir foi o Conselho. Mas eu ia vir igual — disse.
Em Planalto, disse que foi até a Delegacia de Polícia, onde prestou depoimento, e que depois permaneceu na cidade. Rodrigo afirmou que participou das buscas ao filho naquele período. Disse que durante o sumiço conversou duas vezes com Alexandra e que não viu ela sair de casa para fazer buscas pelo filho.
— Fui ali para saber do nenê, se ela não tinha nada para me responder. Ela me perguntou se eu não tinha que voltar para o trabalho. Eu disse: não posso ir, o filho é mais importante — afirmou.
Sobre os conteúdos encontrados em seu celular, envolvendo armas de fogo e pornografia, afirmou que participava de grupos de WhatsApp e que recebia imagens. O promotor exibiu mensagens que teriam sido enviadas por Alexandra para Rodrigo no dia 21 de maio de 2020, uma semana após o sumiço do filho. "Eu mais do ninguém quero saber o que aconteceu", escreveu Alexandra, sobre o desaparecimento do garoto.
— Por que não deu pra mim? Sempre digo — afirmou sobre o fato de acreditar que Alexandra assassinou o filho.
O agricultor relatou que foi retirado da escola na quinta série, para trabalhar na roça. O promotor questionou se Alexandra alguma vez relatou que o filho jogava muito no celular e estava desobediente, mas ele negou.
— Às vezes vinha para cá, pegava ele para tomar sorvete. Ele disse pra mim que quando fizesse 12 anos queria ir pra lá comigo, que estava muito complicado — afirmou, contrariando o depoimento anterior do irmão de Rafael, que narrou que o garoto não gostava do pai.
O promotor questionou o pai sobre a acusação de Alexandra contra ele.
— Como sou eu, se eu estava lá (na Serra)? — disse.
Logo depois, passou a ser indagado pela promotora Michele Dumke Kufner, e falou que nunca deixou de auxiliar Alexandra com as despesas do filho.
— Ficou ruim para mim — disse, sobre a perda do garoto.
O último promotor a questionar foi Marcelo Tubino, que ressaltou o fato de Rodrigo ser uma pessoa humilde.
Daniel Tonetto, assistente de acusação, questionou se o pai esperava que o filho fosse morar com ele quando ficasse mais velho.
— É, eu acho que sim. Ele ir para lá comigo. (...) Ficou muito ruim para mim. Até hoje fica ruim — disse o pai.
Logo depois, o promotor Taborda leu trecho da lei Mariana Ferrer, que protege a honra e dignidade de testemunhas e vítimas, solicitando que antes de passar a palavra da defesa, que os advogados sejam advertidos sobre a proibição de violação da lei.
— Irá intervir em todo e qualquer ato atentatório à dignidade da vítima e da testemunha — disse o promotor.
A juíza Marilene Campagna na sequência reiterou o pedido para que seja mantido o respeito com as partes e que se evite "o deboche".
— Perguntas, ok. Mas acho que existem meios e meios de fazer a mesma pergunta — alertou a magistrada.
Logo depois, às 15h30min foi realizado intervalo, e no retorno a defesa iniciou as perguntas.
Questões da defesa levam a encerramento
No retorno do intervalo, o advogado Tonetto informou que Rodrigo não responderia as perguntas feitas pela defesa. A situação levou a um debate sobre a situação e Tonetto alegou que não permitiria que Rodrigo fosse humilhado. A defesa sustentou que não faltaria com o respeito. Com isso, houve acordo para que o depoimento fosse retomado, mas sem realização de transmissão.
— A gente inicia, e que fique bem claro, que a qualquer momento a defesa pode dizer "não, agora encerrou" — afirmou a magistrada.
Logo depois, o advogado Jean Severo disse que as imagens que seriam exibidas derrubariam a transmissão do Youtube.
— Doutora, nem começou as perguntas e já está assim. Não tem condições — disse Tonetto.
Logo depois, se acertaram para que fossem realizadas as perguntas. A primeira pergunta da defesa foi sobre como era a relação dele com o filho e isso levou a novo conflito entre as partes.
— Era boa, com meu filho. Com nenhum dos dois (Anderson e Rafael) não tinha — respondeu o pai.
A defesa passou a fazer questões para reforçar que o pai não tinha participação na vida do filho. Indagou, por exemplo, se ele frequentava a escola do menino e se participava de eventos escolares. O agricultor confirmou que quando moravam juntos sim, mas que em Planalto não. Rodrigo confirmou que, na época que viviam juntos, Alexandra parecia ser uma mãe cuidadosa. Indagado sobre a série que o filho estava, disse que acreditava que quinto ou sexto ano — Rafael estava no sexto ano.
Logo depois, após novo conflito, Tonetto afirmou que não permitira que o cliente seguisse respondendo as perguntas. Com isso, foi encerrado o depoimento do pai, e foi dado início ao relato de uma professora de Rafael.
"Ela estava tranquila" diz professora
Num depoimento sucinto, a professora Ladjane Ravagio disse que o aluno era muito educado, disciplinado e parecia uma criança bem cuidada. O menino estudava no 6º ano do Instituto Estadual de Educação Pedro Vitório.
— O professor consegue ver o que acontece em sala de aula, fora disso não tem acesso — afirmou.
Indagada pela promotora Michele se tinha participado das buscas ao garoto, afirmou que chegou a ir na casa de Alexandra prestar solidariedade.
— Ela estava tranquila. Aparentemente, bem fria. É como se não fosse com ela. (...) Foi inacreditável. Toda a sociedade sofreu e a gente sofreu junto — disse.