A onda de violência e a reação incisiva do Estado, no Rio de Janeiro, virou assunto nacional e tem deixado muitas pessoas preocupadas com relação ao avanço da insegurança. Segundo a psicóloga Jussara Dariano, pesquisadora do Instituto Contemporâneo de Psicanálise, de Porto Alegre, tanto a rotina de quem vive no Rio, quanto o comportamento de quem tem contato com o tema apenas pela mídia, são afetados.
- Para quem vive lá ou para quem está apenas acompanhando o assunto, o impacto é muito grande, não há como ficar indiferente.
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Segundo Jussara, em situações adversas, as pessoas são impelidas a criar um "mecanismo de adaptação" que as fazem passar por cima do sentimento de insegurança.
- Precisamos sobreviver e tocar nossas vidas e isso, mesmo que não percebamos, nos leva a criar estratégias para driblar o problema. Não acredito que as pessoas parem suas vidas por causa da violência. O medo, muitas vezes, é apenas um fator para que sejamos mais cautelosos e não, necessariamente, para que desistamos de nossos projetos - destaca.
A especialista explica ainda que situações como esta afetam o comportamento das pessoas como um todo, mas não necessariamente para o mal. A partir delas, é possível traçar novas atitudes com relação ao próximo, estabelecer relações familiares mais sólidas e aprimorar o comprometimento com os problemas sociais.
- Nesses momentos, as pessoas revêem seus valores, inclusive, redefinido suas relações pessoais. A tendência é, mesmo inseguros, nos tornarmos mais solidários e ficarmos mais dispostos a ajudar - destaca.
Além disso, o momento é ideal para rever atitudes como o relacionamento em família.
- A violência é um problema recente? Só agora temos conhecimento dela? Não. Muitas vezes ela surge no núcleo familiar e essas atitudes precisam ser repensadas, pois, muitas vezes, a violência é prendida dentro de casa e levada para a rua - alerta.
Por outro lado, segundo ela, o cidadão precisa repensar as suas atitudes em relação à própria violência.
- Quem testemunha atos violentos e não os denuncia, ou quem compra drogas ilícitas de traficantes, por exemplo, está, sim, avalizando a criminalidade. O cidadão dito pacífico precisa se responsabilizar por suas atitudes e omissões - alerta.
Questionada sobre os efeitos que esse clima de insegurança gera, Jussara defende que a forma como lidamos com esses problemas é muito pessoal e que não há como falar em um trauma coletivo.
- Apesar de muitas pessoas deixarem, inclusive, de cumprir suas tarefas rotineiras, há outras que seguem tocando sua vida normalmente. Isso vai depender muito do histórico de cada um. Fica difícil afirmar que esteja surgindo aí uma geração de jovens que tenha medo de tudo, que abra mão dos seus sonhos - completa.
Apostando no diálogo
Para a psicóloga, mascarar o problema nunca é um bom negócio, especialmente quando se trata das crianças. Já que é impossível impedir que elas tomem conhecimento da realidade, a melhor aposta sempre será o diálogo.
- No meu entendimento, devemos lidar com as coisas à medida em que elas acontecem. Se a criança se fixar em determinado assunto é imprescindível que conversemos claramente e sem meias-palavras, esclarecendo suas dúvidas. Caso contrário, não há motivo para expô-las - aconselha.
Já com os adolescentes, conforme as capacidades e necessidades deles, o diálogo deve ser estimulado. Segundo a psicóloga esta é uma ótima oportunidade para que os pais entendam como esse jovem encara o assunto. Por isso, conversar, perguntar sobre sentimentos, medos e angústias é fundamental, e pode evitar que ele se afaste da família.
A influência da mídia
Para Jussara a mídia influencia na visão que a população tem sobre a violência. No entanto, ela não acredita que a cobertura jornalística que está sendo feita do caso seja a única responsável pelo clima generalizado de insegurança. Segundo ela, seria preciso relativizar a força dos meios de comunicação.
- A mídia não consegue reproduzir em todas as suas nuances a crueza da violência real e muito menos atinge a todos com a mesma intensidade - explica a psicóloga.
Para ela, o cidadão, por si só, possui um entendimento e um repertório particular do que seja a violência, muito baseado em suas vivências particulares e no ambiente social no qual está inserido.
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