
Um projeto que tramita na Câmara Municipal de Porto Alegre determina que, a cada veículo vendido pelas concessionárias, uma árvore nativa seja plantada pelas revendedoras. Conforme o autor, vereador Marcelo Sgarbossa (PT), a proposta busca neutralizar as emissões de CO2 e outros gases que contribuem, por exemplo, para o efeito estufa.
Segundo o texto apresentado no Legislativo, o plantio das árvores nativas poderá ser executado pela própria concessionária ou por cooperativas, organizações não governamentais e empresas privadas habilitadas pelo executivo municipal, de acordo com Plano Diretor de Arborização Urbana (PDAU). O vereador afirma que se inspirou em leis de outras duas cidades — Londrina (PR) e Manaus (AM).
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— Tem um fato de redução efetivo do dióxido de carbono e o gesto simbólico do plantio de uma árvore. Não sei se está funcionando (em Londrina e Manaus), são dois exemplos distantes. Mas não consigo achar um grande obstáculo para não funcionar, a não ser má vontade ou falta de fiscalização. Não estamos propondo algo absurdo — explica o parlamentar.
Fernando Esbroglio, presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos (Sincodiv/Fenabrave-RS), discorda. Ele acredita que a medida encareceria o veículo, e o custo do vegetal seria repassado aos compradores:
— É uma manobra populista para onerar o consumidor final, porque quem vai ter de pagar a árvore é o consumidor. Quem vende os carros não vai tirar do bolso mais um gasto que não tem cabimento. Já não chega a crise e a dificuldade de vender que temos. Ainda vai aumentar o nosso custo?
Esbroglio afirma que, se o projeto for aprovado, as pessoas podem deixar de comprar carros na Capital.
— Se eu tiver que comprar um carro, vou comprar onde não tem essa lei. Por que Porto Alegre tem de onerar ainda mais o cidadão? — questiona.
Sgarbossa contrapõe:
— O valor de uma muda é baixíssimo, e as concessionárias fariam isso em quantidade, poderiam inclusive fazer em parceria com outras entidades ambientais. Se fosse um peso, seria um peso muito leve. O projeto convida as concessionárias a serem agentes na redução dos impactos.
Especialista diz que proposta é insuficiente
Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e em Engenharia Mecânica, Carlos Alberto Mendes Moraes explica que o projeto é insuficiente e precário. O docente argumenta que a proposta não resolve o problema da quantidade de carros que rodam pela cidade nem é suficiente para neutralizar o impacto gerado na natureza _ ele explica que, à medida que o carro vai aumentando o tempo de vida, gera mais poluição.
— Por que vai cobrar da concessionária plantar uma árvore e não do consumidor? Sou eu que estou utilizando o automóvel, sou eu que estou emitindo gases de efeito estufa. E o fabricante? Por que a concessionária fica com essa atribuição somente? Ela deveria ajudar, porque, se ela está vendendo, fica com o lucro. Mas, ela está vendendo um carro 0 km. Uma coisa é eu avaliar o impacto ambiental de um veículo 0 km, outra coisa é avaliar o impacto de um carro de três, quatro anos — defende o professor, que trabalha com pesquisa na área ambiental.
Como sugestão, Moraes afirma que é necessário considerar uma pesquisa mais profunda no assunto para pensar em soluções, que não sejam paliativas ou de marketing:
— Se for considerada uma avaliação profunda no ciclo de vida do uso de automóvel, aí podemos chegar em algumas soluções para reduzir o impacto ambiental e recuperar nossas florestas e passivos ambientais que nós temos em vários lugares, para podermos respirar um ar mais saudável, termos águas potáveis e uma natureza preservada.