
Quando cruzou pela primeira vez os portões do Instituto Popular de Arte-Educação (Ipdae), aos 11 anos, Rafael Marques só queria retirar um livro na biblioteca da instituição localizada na Parada 18 do bairro Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre. Encantou-se com as contações de história do grupo formado no projeto, com a possibilidade de passar horas lendo e com os acordes de clássicos da MPB e da música erudita. Ao contrário do que imaginava, acabou ficando. Hoje, aos 24 anos, Rafael é bacharel em Música, especializado em flauta transversa, e professor de Teoria e Percepção Musical no próprio Ipdae.
– Mesmo não tendo nenhuma intimidade com a música, foi muito natural o processo de seguir estudando no Instituto. Sentia como se fosse minha segunda casa – conta Rafael.
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Morador da Parada 25, Rafael passou a frequentar as aulas de flauta doce, prática que aprendeu durante um ano. Depois, optou pelo som da transversa e nunca mais a deixou. Inclusive, levava o instrumento para casa e ensaiava nas poucas horas vagas. Fez da música uma companheira inseparável.
– Minha família, apesar de estar acostumada a ouvir samba e pagode, não estranhou o meu estilo. Pelo contrário, sem eles eu jamais teria conseguido. O apoio da minha mãe, da minha avó materna e dos meus tios sempre foi fundamental – garante.
Longe de casa, Rafael perdeu a conta das vezes que ouviu piadas e sentiu a desconfiança de quem achava a atividade apenas um hooby e não uma profissão.
– Sempre ouvi os famosos "música não dá dinheiro" e "tu faz música e no que trabalha?", mas nunca dei bola. Este tipo de atitude só me motivou ainda mais a seguir – revela.
Voo solo
Em 2012, aos 17 anos, Rafael teve o que considera ter sido o melhor momento da vida até agora: venceu o concurso Jovens Solistas e se apresentou sozinho à frente da Orquestra de Câmara Fundarte, na série de concertos Catedrais.
— Foi um período inesquecível. Ensaiei durante semanas com a orquestra e fiz aquela apresentação que até hoje está na minha memória. Solar em frente à uma orquestra é algo inexplicável. Ali, percebi que jamais deixaria a flauta — recorda, emocionado.
Primeiro da família a ingressar na Ufrgs, Rafael teve a experiência musical reconhecida ao ser selecionado para a monitoria na faculdade de Música. No ano passado, no último ano do curso, ele conquistou o prêmio de Melhor Jovem Flautista do Estado, durante o sétimo Encontro Internacional de Flautistas. Enquanto cursava o ensino superior, o jovem começou a tocar na Orquestra de Sopro Eintracht de Campo Bom — onde segue até hoje.
Respirando música

Mesmo depois de oito anos como aluno do Ipdae, ele jamais deixou a instituição. Formado, encontrou horários para fazer parte das orquestras de câmara e de flautas transversas do Instituto. Há dois anos, a partir de um convite da direção, Rafael voltou às salas de aula do Ipdae como professor. Neste período, já lecionou para mais de 200 estudantes.
— Me sinto honrado em levar adiante o nome da Instituição. Ao mesmo tempo, é um peso enorme carregar esta responsabilidade. Por isso, vou seguir me aperfeiçoando para dar o meu melhor aos meus alunos — afirma, determinado.
Engana-se quem pensa que estas são as únicas atividades de Rafael ligadas à música. Para reforçar a paixão por Johann Sebastian Bach, Richard Wagner e todos compositores franceses eruditos, já que o jovem não gosta de dizer que admira apenas um músico, ele ainda encontra tempo para lecionar num projeto social em Alvorada e dar aulas particulares. Rafael respira música.
Contatos com o Ipdae
/// Avenida João de Oliveira Remião, 7.193, Parada 18, bairro Lomba do Pinheiro
/// Telefone (51) 3336-3713
/// Saiba mais sobre o projeto em www.ipdae.com.br