Os dias tem sido de muito calor em Porto Alegre. Os ânimos estão exaltados. Nas salas, o ar condicionado cria uma realidade paralela, essa falsa ilusão de que a natureza pode ser controlada. Do lado de fora, faz sol. Saio da produtora e encontro o meu amigo suando à sombra, fumando um cigarro e com certo desânimo no olhar. Estou atrasado, morrendo de fome, mas decido sentar alguns minutos para tentar entender o que está acontecendo. No celular, ele me mostra, entre triste e indignado, o áudio de um programa de rádio no qual o apresentador instiga seus ouvintes a darem uma cusparada no presidente Lula. Meu amigo nunca votou no PT, jamais fez campanha para partido algum e nem parece muito interessado em política. Sua tristeza advém do fato de ter estado no carro, com o filho pequeno no banco de trás, escutando um programa supostamente engraçado, quando um jornalista passa a instigar a violência física como se fosse normal. "Simplesmente não é legal ninguém mandar cuspir na cara de ninguém", me diz ele. Meu amigo é da paz, e por isso se sentiu agredido. Me despeço sem ter muito o que dizer. A imprensa anda raivosa demais e, talvez por isso, enfrente hoje umas de suas piores crises. A crise de credibilidade.
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