
A tradição de contar histórias para crianças não se extinguiu nesta época em que adultos disputam a atenção de seus pequenos com televisão, smartphones e outros recursos digitais. Ao contrário: o hábito se profissionalizou. Durante esta 60ª Feira do Livro de Porto Alegre, seis experientes contadores de histórias se revezam recebendo turmas escolares e outros visitantes diariamente na Área Infantil e Juvenil do evento. Segundo a Câmara Rio-grandense do Livro, promotora da Feira, em média 2 mil crianças passam pelo espaço todos os dias.
Às vezes, a demanda é tanta que é preciso promover a contação em outros espaços do evento, como ocorreu ontem, no auditório do Memorial do RS, onde a contadora Bárbara Camargo leu o livro O Negrinho do Pastoreio, de Luiz Coronel, para 36 meninas e meninos da Escola Municipal Wesceslau Fontoura, do bairro Mario Quintana. À tarde, Bárbara assumiu seu posto no QG dos Pitocos, onde recebeu outras turmas escolares e também a Creche Topo Gigio, com crianças entre três e seis anos. Com formação em teatro, ela se especializou em contar histórias há 20 anos, e hoje trabalha para uma editora fazendo contações em escolas e outros eventos.
- Cada contador desenvolve seu estilo. Como vim do teatro, uso muito a dramatização, mas há contadores de estilo mais contido que também fazem trabalhos incríveis - diz Bárbara.
Responsável pelo Área Infantil e Juvenil, Sônia Zancheta acredita que o trabalho dos contadores é fundamental para instigar o gosto pela leitura:
- Até mesmo pais que não sabem ler podem estimular a leitura nos filhos quando são bons contadores de histórias.
Quer desenvolver sua habilidade de contar histórias para os pequenos? Uma opção é participar do seminário A Arte de Contar Histórias, com oficinas, debates e outras atividades, todas abertas ao público. Esta é a sétima edição do evento, que ocorre paralelamente à Feira - veja a programação diariamente em feiradolivro-poa.com.br.
Como ser um bom contador de histórias?
ZH conversou com os contadores e obteve quatro lições para você usar com os pequenos. Confira:
1) Escolha uma história da qual que você gosta
Independentemente da idade dos ouvintes, os contadores indicam que o mais importante é escolher uma história da qual se gosta para contar: só quem está cativado por algo consegue cativar os outros. Para crianças até os seis anos, o importante é escolher histórias curtas, cuja contação dure até 10 minutos, pois elas ainda não conseguem manter a concentração por muito tempo. Ouvintes um pouco mais velhos podem escutar histórias mais longas, mas são mais seletivos: garotos costumam gostar de aventuras; meninas, de princesas. A partir dos 10 anos, contos mais complexos e clássicos da literatura universal como As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, já podem ser introduzidos.
2) Crie um clima
Contadores profissionais usam diferentes recursos para atrair a atenção das crianças antes da história, como dinâmicas de grupo, truques de mágica e música. Para quem toca um instrumento ou sabe cantar ao menos um pouquinho, alguns acordes ou melodias podem servir como atrativo. Se o seu dom não for musical, proponha um jogo, peça ajuda dos pequenos para recitar um poema ou use seus talentos para criar seu próprio método. Por mais simples que seja, essa atividade inicial servirá para conquistar a simpatia dos ouvintes e criar uma boa expectativa para a história.
3) Rompa a barreira da leitura
Você não precisa estar todo o tempo ligado ao texto da história escolhida. Adaptar trechos para sua própria forma de expressão e criar diferente vozes e sotaques para os personagens são alguns truques que enriquecem as narrativas. A desenvoltura necessária para isso, no entanto, vem com tempo: até mesmo um contador experiente demora até criar intimidade com uma história e desenvolver o melhor modo de contá-la. Siga lendo e, aos poucos, as ideias surgirão com naturalidade.
4) Outros cuidados
Colocar-se no nível do olhar dos ouvintes é fundamental para gerar empatia. Por isso, tome cuidado para sentar-se de um modo que as crianças menores não precisem levantar os olhos para acompanhar seus movimentos. Crianças até seis anos também podem se assustar com performances muito contundentes - o ideal é manter um tom de voz ameno para esse público, além de fazer uso de música, brinquedos ou fantoches para ilustrar a narrativa.

