O general gaúcho Sérgio Etchegoyen, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo de Michel Temer, classificou o ato golpista praticado no domingo (8) em Brasília, como "inaceitável". Ele concedeu entrevista nesta segunda-feira (9) ao Gaúcha Mais, da Rádio Gaúcha.
— O que aconteceu em Brasília ontem foi inaceitável, depredação de prédios públicos, invasão da sede dos poderes, agressões, essas coisas todas são até desnecessárias de qualificar porque já estão mais do que qualificadas como crime, barbárie, o que for. Em um país que pretende ser civilizado, isso é inaceitável — afirmou Etchegoyen logo na abertura da entrevista.
Etchegoyen também comentou sobre as razões que acredita terem contribuído para criar esta situação. O general destacou principalmente como causa a divisão política que existe no Brasil, elencando ainda outros fatores que colaboraram para criar o ambiente atual de instabilidade institucional do país.
— Nesses momentos mais críticos a gente muitas vezes se equivoca e tenta enxergar coisas a partir do hoje, ou do ontem, mas o que aconteceu ontem tem causas remotas, que podem ser buscadas na divisão do "nós e eles", na disputa polarizada entre duas candidaturas que têm raízes no radicalismo de um e outro lado, na descrença e no descrédito de boa parte da população no Sistema Judiciário, em função de decisões mal explicadas ou equivocadas. Isso tudo cria esse ambiente que lamentavelmente estamos vivendo — acrescentou, reforçando que espera que todos os envolvidos nas ações sejam devidamente responsabilizados.
O general foi ministro do GSI durante todo o governo Temer, de maio de 2016 a dezembro de 2018. Por isso, Etchegoyen ressaltou que episódios como o ocorrido no domingo precisam ser enfrentados com a integração de todas as forças de segurança locadas em Brasília, incluindo as do Distrito Federal, do governo federal e dos poderes Legislativo e Judiciário.
— Essas coisas se antecipam com trabalho de inteligência, com integração e com coordenação. Existe uma estrutura física que normalmente é na sede da Polícia Rodoviária Federal em Brasília, onde tem um centro de comando e controle que foi montado para a Copa do Mundo, que permite que todos estejam juntos, incluindo o Ministério da Defesa, e esses órgãos todos começam a trabalhar antes para prevenir. Se a situação for escalando, começa-se a trabalhar para mitigar, limitar o dano, especialmente às pessoas, e em segunda prioridade, às instalações — complementou Etchegoyen.
Por fim, o general gaúcho também avaliou o desgaste da imagem das Forças Armadas nos últimos meses em meio à polarização que ocorre no Brasil. Para Etchegoyen, ocorreram tentativas de "instrumentalização" do órgão por parte dos dois lados do espectro político.
— A imagem das Forças Armadas foi irresponsavelmente instrumentalizada por um e por outro lado. Pelo presidente que queria se colocar como tendo apoio das Forças Armadas, e pelo atual governo que queria atirar as Forças Armadas "no colo" do presidente, insinuando que haveria um golpe no dia seguinte, o que nunca aconteceu. Isso foi instrumentalizado. O episódio de ontem deixou claro para quem quiser entender que o que o Brasil precisava era de paz, e de alguém que trouxesse pacificação, que é o caminho da prosperidade. Não há prosperidade sem paz — concluiu.